Morre o ator Gene Hackman, estrela de 'Operação França' e 'Os Imperdoáveis', aos 95
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Morreu o ator americano Gene Hackman, aos 95 anos, estrela de filmes como "Operação França" e "Os Imperdoáveis", vencedor de duas estatuetas do Oscar em uma carreira de seis décadas. Ele foi encontrado ao lado da sua mulher, a pianista Betsy Arakawa, de 64 anos, também morta, na casa deles, afirmou a imprensa dos Estados Unidos, na madrugada desta quinta-feira.
O cachorro do casal também foi achado morto na residência.
A polícia do condado de Santa Fé classificou a morte do casal como suspeita em um mandado de busca emitido ainda nesta quinta. Segundo a Variety, o documento afirma que a porta da residência foi encontrada aberta pela polícia, com um cachorro correndo solto pela propriedade. Os oficiais também não encontraram sinais de vazamento de gás na casa, mas localizaram móveis fora do lugar.
Eugene Allen Hackman nasceu em 30 de janeiro 1930, na Califórnia, e cresceu na cidade de Danville, no estado americano de Illinois. Filho de um gráfico e de uma garçonete, ele tinha 13 anos quando o pai abandonou a família, enquanto o filho brincava na rua.
Antes da carreira como ator, Hackman serviu como fuzileiro naval na China, no Havaí e no Japão. Voltou a Illinois para cursar jornalismo, mas não terminou os estudos, voltando para a Califórnia, onde iniciou sua carreira artística.
Hackman atuou em mais de 80 filmes, além de trabalhar na televisão e no teatro durante uma longa carreira que começou no início dos anos 1960, atuando em séries de televisão e na Broadway. Faz pequenas participações no cinema até que, em 1964, atua em "Lilith", com Warren Beatty, astro que ajudaria o ator a ter mais destaque na indústria.
Alto, com quase 1,90 metro, feições marcantes e calvo, o ator brincava que tinha o aspecto de um homem comum, que poderia se misturar na multidão. Mas foi a capacidade de explorar essa faceta que definiu sua passagem pelo cinema, onde ficou mais famoso quase aos 40 anos.
O americano recebeu a primeira indicação ao Oscar de ator coadjuvante por viver o irmão do ladrão de bancos Clyde Barrow, papel de Beatty, em "Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas", dirigido por Arthur Penn, em 1968. Depois seria indicado na mesma categoria por "Meu Pai, um Estranho", em 1971, sobre um professor que tenta compreender e se comunicar com o pai, fechado e exigente, papel de Melvyn Douglas.
Mas foi como Jimmy "Popeye" Doyle, o desleixado detetive nova-iorquino perseguindo traficantes internacionais em "Operação França", do diretor William Friedkin, que garantiu seu estrelato e o primeiro Oscar de melhor ator.
O personagem marcou época não só por sua personalidade, mas por seu visual marcante, com seu chapéu baixo, de corpo e aba redondos, protagonizando um policial sobre combate a traficantes de entorpecentes, o que dava ao conjunto da sua caracterização algo de deslocado, refletindo o próprio tom caótico e sujo do filme.
A década de 1970 seria uma de suas mais prolíficas e elogiadas. Em 1974, faz "A Conversação", de Francis Ford Coppola, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, sobre um especialista em vigilância que tenta impedir um assassinato -um dos mais importantes papéis de sua carreira.
"A perda de um grande artista sempre causa tanto luto quanto celebração", escreveu Coppola nas redes sociais, nesta manhã. "Gene Hackman, um grande ator, inspirador e magnífico em seu trabalho e complexidade. Lamento sua perda e celebro sua existência e contribuição."
Seria ainda, ao lado de Al Pacino, um ex-presidiário brigão em "O Espantalho", de 1973, que considerava pessoalmente um dos seus maiores personagens. O filme de Jerry Schatzberg levou a Palma de Ouro em Cannes naquele ano, empatado com "O Assalariado", de Alan Bridges.
Repetiria o papel de um detetive desajustado em "Um Lance no Escuro", de 1975, novamente com Arthur Penn, com quem voltaria a trabalhar em "O Alvo da Morte", de 1985.
Nessa época, estrelava entre três e quatro filmes por ano, incluindo papéis menores em "O Jovem Frankenstein", de 1974, de Mel Brooks -onde ele explorou sua verve cômica, como um eremita cego-, e estrelando a continuação "Operação França 2", não mais com Friedkin, mas com a direção de John Frankenheimer.
Entre papéis marcantes na cultura pop, Hackman viveu Lex Luthor, um dos principais vilões do Super-Homem -autodeclarada "a mente criminosa mais brilhante de nosso tempo"- nos filmes estrelados por Christopher Reeve. Foram eles "Superman: O Filme", de 1978, e "Superman 2: A Aventura Continua", de 1980, além de uma ponta em "Superman 4: Em Busca da Paz", já em 1987.
Décadas depois, seria o patriarca Royal Tenenbaum para as novas gerações de cinéfilos, em "Os Excêntricos Tenenbaums", dirigido por Wes Anderson, de 2001.
A quarta indicação ao Oscar foi em 1988, com "Mississippi em Chamas", no qual interpretou um agente do FBI investigando o desaparecimento de três trabalhadores dos direitos civis, em 1964, no coração do conflito com a Ku-Klux-Klan.
Foi outra década com performances celebradas, como em "Momentos Decisivos", de 1986, vivendo um treinador de basquete do ensino médio em busca de redenção, ou como um funcionário do governo americano que mata sua amante em "Sem Saída", de 1987.
Mesmo após uma cirurgia cardíaca em 1990, o ator seguiu seu ritmo de produção. Venceria o segundo Oscar da carreira, como melhor ator coadjuvante, por um cruel xerife no melancólico faroeste "Os Imperdoáveis", de Clint Eastwood, de 1993. Neste papel, em particular, Hackman teve uma atenção especial à brutalidade sádica, contracenando com Eastwood e Morgan Freeman.
Trabalharia novamente com o diretor em "Poder Absoluto", de 1997, encarnando um inescrupuloso presidente dos Estados Unidos, que tenta esconder a morte da amante por agentes do serviço secreto.
Ele se aposentou aos 70 anos, dizendo que lhe ofereciam apenas personagens de avôs. Seu último papel de destaque foi na comédia "Uma Eleição Muito Atrapalhada", de 2004.
"A gota dágua foi, na verdade, um teste de estresse que fiz em Nova York. O médico me avisou que meu coração não estava em condições de enfrentar qualquer estresse", afirmou ele em entrevista à revista Empire, em 2009.
Nas últimas décadas, Hackman se dedicou a outras artes, como a pintura, a escultura e a literatura. Nesta última, colaborou com o amigo Daniel Lenihan em romances históricos, e publicou o faroeste "Payback at Morning Peak", em 2011, e o suspense "Pursuit", em 2013, sem publicação no Brasil.
Vivendo em um rancho em Santa Fé, no topo de uma colina com vista para as Montanhas Rochosas do Colorado, Hackman foi casado duas vezes e teve três filhos -Christopher, Elizabeth Jean e Leslie Anne, com Faye Maltese, com quem foi casado de 1956 até 1986. Ele estava casado com Arakawa, que era pianista clássica, desde 1991.
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