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Patrocinadores pressionam Minas após mensagens homofóbicas de Maurício Souza

Por Folha de São Paulo

26/10/2021 20h06 — em
Esportes



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os patrocinadores do Minas Tênis Clube pressionam a direção da equipe a tomar atitudes mais firmes contra Maurício Souza. O jogador de vôlei fez publicações homofóbicas em suas redes sociais e recebeu uma repreensão pública do time, mas essa censura foi considerada branda e tardia.

Há duas semanas, o atleta de 33 anos manifestou seu descontentamento com o anúncio da DC Comics de que o novo Super-Homem, filho do Super-Homem original, vai se descobrir bissexual nas próximas edições dos quadrinhos. "Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar", escreveu.

Houve, então, uma discussão virtual com Douglas, companheiro de Maurício na seleção brasileira e membro da comunidade LGBTQIA+. "Engraçado que eu não virei heterossexual vendo super-heróis homens beijando mulheres", respondeu o ponteiro, compartilhando o desenho do beijo gay do novo Super-Homem. "Se uma imagem como essa te preocupa, sinto muito, mas eu tenho uma novidade para tua sexualidade frágil: vai ter beijo, sim."

Criticado –e também aplaudido por muitos no ambiente das redes–, Maurício fez questão de manter sua posição. "Hoje em dia, o certo é errado, e o errado é certo... Não se depender de mim. Se tem que escolher um lado, eu fico do lado que eu acho certo! Fico com minhas crenças, valores e ideias", insistiu.

A repercussão foi grande, mas o Minas levou duas semanas para se posicionar. O clube de alto padrão de Belo Horizonte publicou uma nota na última segunda (25), dizendo-se contra a homofobia, mas defendendo que "todos os atletas federados à agremiação têm liberdade para se expressar livremente em suas redes sociais".

"O clube é apartidário, apolítico e preocupa-se com inclusão, diversidade e demais causas sociais. Não aceitamos manifestações homofóbicas, racistas ou qualquer manifestação que fira a lei. A agremiação salienta que as opiniões do jogador não representam as crenças da instituição sociodesportiva", afirmava a nota.

O Minas dizia ainda que havia conversado "internamente" com o jogador, mas não satisfez boa parte do público e de seus torcedores. Os patrocinadores do time de vôlei, que vinham pressionando por um posicionamento, soltaram nesta terça (26) notas em tom de cobrança, bem mais firmes do que a apresentada pelo clube.

"A Fiat declara repúdio a toda e qualquer expressão de cunho homofóbico, considerando inaceitáveis as manifestações movidas por preconceito", afirmou a montadora. "A Fiat repudia qualquer tipo de declaração que promova ódio, exclusão ou diminuição da pessoa humana e espera que a instituição tome as medidas cabíveis e necessárias no espaço mais curto de tempo possível."

Em seguida, foi a vez de a outra apoiadora do time de vôlei, chamado de Fiat/Gerdau/Minas, exibir posição semelhante. "A Gerdau reforça o seu compromisso com a diversidade e a inclusão, um valor inegociável para a companhia. A empresa ressalta que decidiu patrocinar os times masculino e feminino do Minas também pelo poder de inclusão da modalidade", disse a produtora de aço.

Carol Gattaz, capitã da equipe feminina do Minas, já teve relações públicas com mulheres. Na formação masculina, Maique é abertamente gay. Ele contou ter conversado algumas vezes sobre homofobia com Maurício Souza, procurando alertá-lo. Maique o chama de amigo e diz ter com ele uma boa relação, apesar do que chamou de "burrice".

Apoiador do presidente Jair Bolsonaro, com quem se encontrou recentemente em Brasília, Souza tem um histórico de declarações e publicações consideradas homofóbicas. A mais recente, pela repercussão, causou um incômodo maior nos patrocinadores, cuja pressão sobre o Minas não tem sido meramente protocolar.

A direção do clube agora se vê em uma situação desconfortável. Parte considerável de seus associados é tida como conservadora, mas são as empresas apoiadoras que bancam os altos salários das equipes de vôlei, que estão entre as melhores do Brasil.


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