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Maradona transforma esquina de bairro rico em local de devoção

Por Folha de São Paulo

01/12/2020 3h34 — em
Esportes



BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Dalma conta que toda vez que entrava em um táxi em Buenos Aires e era reconhecida como filha de Diego Maradona, não precisava nem dizer o destino. "Segurola com Habana?", perguntava o taxista.

Toda a Argentina conhecia o endereço por um simples motivo: o camisa 10 o havia dito na TV, em rede nacional.

Durante jogo do Campeonato Argentino de 1995, ele discutiu com o atacante Toresani, do Colón. Quando soube que o adversário havia dito estar pronto para briga, Maradona o desafiou com frase que se tornou um dos seus clássicos:

"Segurola com Habana, 4310, sétimo piso. Vamos ver se dura 30 segundos comigo", respondeu.

A esquina da avenida Segurola com a rua Habana, em Villa del Parque, um bairro de classe alta a 22 quilômetros do centro da capital, se transformou em um dos mais improváveis locais de devoção a Maradona após sua morte, na última quarta-feira (25).

Segundo moradores da região, centenas de pessoas vão ao cruzamento todos os dias e fazem a região quase sempre tranquila ter um movimento inédito.

"Você precisava ver isso no dia em que Diego morreu. Ninguém na vizinhança dormiu por causa da quantidade de gente e do barulho", disse Florencia Damares, 54, que trabalha em uma das casas do bairro e na tarde de domingo (29) levou um filho para conhecer a esquina.

Os nomes das placas foram substituídos. Habana virou Diego, e Segurola foi trocada por Maradona como homenagem feita pela prefeitura. A identificação da região também foi alterada. De 11 passou para 10.

Na entrada do número 4310, prédio de luxo com um apartamento por andar, há restos de cera, resquícios das velas acesas nos dias anteriores. A reportagem tocou o interfone no "sétimo piso", onde morava o craque, mas ninguém respondeu.

Todos os dias, desde a semana passada, alguns pontos de Buenos Aires se tornaram obrigatórios para os fãs que querem prestar homenagens a Diego.

Alguns são mais conhecidos, como os estádios Diego Armando Maradona, do Argentinos Juniors, e a Bombonera, do Boca Juniors. Ambos reservaram espaços para que os torcedores pudessem depositar flores, fotos, camisas e mensagens.

Foi pelo Argentinos que ele começou a carreira profissional, em 1976. O Boca é seu time do coração, onde teve três passagens distintas e depois passou a ser dono da camarote. Seu jogo de despedida, em 1997, foi na Bombonera.

A cinco quadras do estádio da Paternal [bairro do Argentinos Juniors], onde os jogadores entram em campo por um túnel inflável com o rosto de Maradona, está o número 2257 da rua Lascano. Um lado da porta está enegrecido pelo fogo das velas. A porta da casa não pode ser aberta por causa dos tributos colocados.

Esse endereço foi a residência jogador durante a maior parte dos cinco anos em que esteve no Argentinos Juniors. Os visitantes quase sempre tocam a campainha, mas ninguém atende. Desde a morte de Diego, a casa está fechada. Em 2016, o local foi aberto à visitação, mas até a semana passada era uma parte desconhecida do turismo da capital.

"Tudo o que se refere a Maradona terá muita procura a partir de agora. Não apenas pelos turistas, mas pelos portenhos também. Muito pouca gente vinha à Paternal para ver coisas ligadas à vida dele. Agora isso vai mudar. Até os carros viraram atrações", afirma Daniella Fernández, funcionária do Argentinos Juniors que levou um amigo para conhecer o endereço no último sábado (30).

Ela se refere a dois veículos dos anos 1970 que pertenceram ao craque e ficaram estacionados diante da residência, sofrendo as intempéries do tempo. Parte da pintura está gasta, os pneus murcharam e peças parecem ter sido retiradas. Mas não faltam os que querem tirar fotos ao lado dos carros que foram de Maradona.

No lado esquerdo da porta, a Prefeitura de Buenos Aires colocou uma placa identificando aquela como a casa do camisa 10.

As homenagens aconteceram em pontos de outras cidades, como no estádio Marcelo Bielsa, em Rosário, onde Diego atuou pelo Newell's em 1992 e 1993. Também no campo do Gimnasia, em La Plata, onde era técnico até a morte.

"Se alguém quiser percorrer a história de Diego, tem de começar por aqui. Pena que o campo não existe mais. Se existisse, as pessoas estariam indo lá prestar homenagens também", constata Armando Susu, responsável pelo centro cultural de Villa Fiorito, bairro onde Maradona cresceu.

A casa construída por seu pai, hoje em dia abandonada, virou outro local de visitação. Mas o campo de terra batida em que jogava todos os dias e onde foram registradas suas primeiras imagens com a bola nos pés foi invadido por prédios, bem mais humildes do que os da esquina da Segurola com Habana.

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