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Calma e visão de luta guiam Sarah Menezes como técnica da seleção de judô

Por Folha de São Paulo

26/01/2022 13h05 — em
Esportes



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Primeira judoca do Brasil a ser campeã olímpica, Sarah Menezes está prestes a iniciar uma nova fase de sua trajetória no esporte.

Na segunda-feira (24), a piauiense embarcou para uma sequência de competições que marcarão sua estreia como treinadora da seleção brasileira feminina de judô. A primeira será o Grand Prix de Portugal, de sexta (28) a domingo (30). Na sequência, o tradicional Grand Slam de Paris, em 5 e 6 de fevereiro.

A viagem fará com que Sarah, 31, passe por outra experiência inédita: permanecer por algumas semanas longe de sua filha, Nina, nascida em maio do ano passado e que ficou sob o cuidado dos avós em Teresina.

Os últimos anos foram agitados na vida da medalhista de ouro nos Jogos de Londres-2012. Primeiramente, a atleta, que passava por um ciclo olímpico difícil em busca da vaga em Tóquio, viu a pandemia adiar o evento para 2021.

Em novembro de 2020, outra surpresa: ela e seu noivo, o judoca francês Loic Pietri, anunciaram que Nina estava a caminho. Sarah se aposentou dos tatames e atuou nas Olimpíadas como comentarista.

No fim de 2021, veio o convite para assumir o comando da seleção feminina. Ela já pensava em ser técnica após encerrar a trajetória de atleta, mas não esperava que fosse acontecer tão rapidamente. E logo para comandar a elite do país nas competições internacionais.

Até então, o casal planejava viver junto na França, porque Pietri ainda luta e buscará vaga nos Jogos de Paris-2024, mas esse foi mais um plano que precisou ser alterado.

"[O mais difícil será] ficar longe da minha filha. Mãe é a primeira vez que estou sendo. Como técnica, mesmo também sendo a primeira vez, estarei num ambiente que já domino", Sarah afirma à Folha sobre os desafios que terá pela frente nos próximos dias.

Ela atribui à sua personalidade tranquila ter reagido bem a tantas novidades e avalia que essa mesma característica pode ser um trunfo no novo trabalho.

"Sou uma pessoa muito calma e acho que vou ser uma técnica muito tática. Eu sempre ajudei as meninas nos treinamentos de campo, elas me pediam palpites pela visão de luta que eu tinha. Eu acabei de fazer essa transição, conheço várias atletas, então o caminho ficou mais fácil", diz.

Ainda na expectativa pela primeira competição para saber como vai se comportar à beira do tatame durante os combates, Sarah se lembra de quando atuou como treinadora no reality show de judô Ippon, exibido pela TV Globo em 2017.

Para ela, porém, o mais importante será a bagagem ainda fresca da trajetória de atleta. "Como na faculdade, a prática é a coisa mais importante que tem. Eu tive 17 anos de prática e confio nesse taco."

A confiança pode ser bem-vinda num momento em que o judô brasileiro tenta se renovar e tem pela frente um ciclo olímpico curto até os Jogos de Paris. Apesar das duas medalhas de bronze obtidas em Tóquio, com Mayra Aguiar e Daniel Cargnin, o esporte teve seu desempenho mais fraco desde Atenas-2004.

Em dezembro, a CBJ (Confederação Brasileira de Judô) anunciou uma reformulação do comando técnico das seleções. Mario Tsutsui, Rosicleia Campos e Luiz Shinohara deixaram seus cargos após um trabalho que contemplou cinco Olimpíadas e resultou em 14 medalhas conquistadas.

Além de Sarah, que substituiu Tsutsui, Andréa Berti passou da seleção júnior o posto de coordenadora técnica da equipe principal feminina, antes ocupado por Rosicleia.

Antônio Carlos de Oliveira Pereira, o Kiko, que comandou os medalhistas olímpicos Mayra Aguiar, Tiago Camilo, Felipe Kitadai e Daniel Cargnin no clube Sogipa, assumiu como técnico da seleção masculina. A japonesa Yuko Fujii passou de treinadora principal para coordenadora técnica no lugar de Shinohara.

Sarah analisa que não há tempo a perder e que o trabalho precisa ser objetivo para dar resultado daqui a dois anos e meio. Também em dezembro, foram realizadas as seletivas que formaram as seleções brasileiras para o ciclo de Paris-2024.

Na equipe feminina, haverá oito estreantes que se juntarão, entre outras, às experientes Rafaela Silva, 29, Mayra Aguiar, 30, Ketleyn Quadros, 34, e Maria Suelen Altheman, 33. Há boas expectativas pelo desempenho de Beatriz Souza, 23. Ela já esteve entre os principais nomes do Brasil no último ciclo olímpico, mas perdeu a vaga do peso-pesado em Tóquio para Maria Suelen.

Há pouco tempo, Sarah convivia com essas judocas na condição de companheira de seleção e era rival de atletas das categorias ligeiro e meio-leve. Agora, as relações mudaram, e todas serão suas comandadas, mas a nova treinadora pretende continuar presente ao lado delas no tatame.

"Eu perguntei para o meu chefe se poderia fazer randori [luta de treinamento] com as meninas. A maioria dos atletas que se aposentaram continua pegando no quimono, é importante para mostrar algumas coisas. Eu penso em continuar ativa e lutar com elas, porque tem uma geração muito nova", afirma.

A comandante reconhece, no entanto, que não será simples mudar essa chave. "O que vai ser um pouco delicado é elas entenderem que hoje eu sou uma treinadora, não sou mais a parceira delas, a amiga. Vai ter que ter respeito, saber o momento de conversar e fazer as coisas com seriedade. O início vai ser complicadinho, mas acho que vai dar certo."

GP DE PORTUGAL ABRE A TEMPORADA 2022 DO JUDÔ

O Grand Prix de Almada, em Portugal, abre o Circuito Mundial em 2022 e distribui os primeiros pontos do ano no ranking mundial.

O Brasil tem 15 atletas inscritos até o momento, com destaque para o medalhista em Tóquio Daniel Cargnin, que saiu da categoria 66 kg e passou para a categoria 73 kg, e Rafaela Silva, que tenta subir no ranking dos 57 kg após dois anos de suspensão por doping.

A competição marcará a estreia dos novos treinadores, Kiko Pereira e Sarah Menezes, e terá transmissão pelo site da federação internacional.


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