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Ana Marcela Cunha se esconde de rivais por 1ª medalha olímpica

Por Folha de São Paulo

08/01/2020 7h24 — em
Esportes



SANTOS, SP (FOLHAPRESS) - Ana Marcela Cunha, 27, se acostumou a longas maratonas na carreira. Em julho do último ano, nadou por pouco mais de cinco horas para conquistar a medalha de ouro na prova dos 25 km do Mundial de Esportes Aquáticos de Gwangju, na Coreia do Sul. Foi a quarta vitória dela nessa distância.

À beira da piscina da Universidade Santa Cecília, em Santos, ela resolveu encarar outro teste de resistência. Atendeu a quase 20 jornalistas no dia 27 de dezembro, de forma ininterrupta.

Foi praticamente seu último compromisso com a imprensa antes da Olimpíada de Tóquio, de 24 de julho a 9 de agosto deste ano. "Deixei frases já gravadas, algumas opiniões, fiz tudo o que era possível. Tenho contrato com patrocinadores e devo algo em troca também, mas tentamos eliminar muitas coisas", ela diz à Folha de S.Paulo.

A ideia da nadadora, dona de 11 medalhas em Mundiais, é "sumir" dos olhares da mídia e de suas adversárias até o momento mais aguardado da temporada, no Japão. "Estou pagando o preço para tentar algo fora da curva."

Ana Marcela tenta chegar menos visada para aquela que pode ser a sua última chance de conquistar uma sonhada medalha olímpica. Em dezembro de 2018, ela já admitia que, devido à sua idade, não poderá deixar passar a próxima oportunidade. "Essa pode ser a minha última. Sei que minha vida útil [como atleta] estará chegando ao fim", disse na ocasião.

Em 2019, Ana Marcela viveu o que chama de melhor ano de sua vida. Em julho, conquistou dois ouros no Mundial na Coreia do Sul, nas provas de 5 km e 25 km. Menos de um mês depois, veio um primeiro lugar inédito na modalidade para o Brasil nos Jogos Pan-Americanos, em Lima.

A nadadora ainda venceu cinco etapas do circuito de maratonas aquáticas e foi eleita em novembro pela revista americana Swimming World a melhor nadadora do mundo em águas abertas.

Na opinião dela, muitos fatores colaboraram para a crescente. O principal foi ter se instalado no Rio de Janeiro. Desde 2018, ela mora em frente ao centro aquático Maria Lenk, onde tem acesso laboratório do Comitê Olímpico do Brasil (COB), entre outras estruturas de ponta.

"Fazemos medições diárias para saber o nível de tudo [no corpo]. São ganhos que ninguém vê. Esse, aliás, é o legado da Olimpíada de 2016. Se você é um atleta de seleção absoluta, tem direito a isso. Eu tomei a decisão de ir até isso, não tenho zona de conforto", diz.

Ela, agora, idealiza um caminho diferente das principais oponentes. Abdicará de grande parte do circuito de maratonas aquáticas, que já conquistou por quatro vezes.

Após uma breve pausa, a nadadora voltou aos treinos no último domingo (5). Competirá na primeira etapa e depois, em fevereiro, rumará para as Ilhas Canárias, arquipélago espanhol procurado pelos nadadores para trabalhar a resistência. Suas principais adversárias passarão pelo local antes, em janeiro.

Em maio, irá a Sierra Nevada, também na Espanha, acompanhada de nutricionista, psicóloga e outros profissionais, para treinar na altitude. De novo, longe das rivais.

"Olhamos várias vezes a prova dos 10 km [distância da prova olímpica] do Mundial. Vinha de uma sequência muito boa, mas fiquei fora do pódio, em quinto lugar. Foi impressionante como fui marcada. Eu ia para o fundo do pelotão, as atletas iam junto. Puxava mais à frente, elas iam", contou. "Foi uma caça, então decidimos que a nossa estratégia seria competir menos em 2020."

Tóquio-2020 será a sua terceira tentativa de medalha olímpica. Em 2008, em Pequim, admitiu ter errado na estratégia adotada na reta final da prova. Mesmo assim, acabou em quinto lugar, sua melhor colocação.

Em 2011, sofreu o maior baque da carreira, quando não conseguiu classificação para os Jogos de Londres e passou a trabalhar com uma equipe multidisciplinar.

No Rio de Janeiro, em 2016, Ana Marcela se emocionou ao fim da prova e disse que o décimo lugar não era digno de uma atleta então três vezes campeã de Copa do Mundo. Na ocasião, Poliana Okimoto conquistou um bronze inédito para o país.

A nadadora até hoje evita assistir às disputas olímpicas. "Não faço muita questão. Foram erros de prova. No Rio, foi uma hidratação que não deu certo, não dá para pensar muito nisso", justifica.

Sempre vista com cabelos pintados, descoloridos ou com cortes ousados, ela agora quer desaparecer dos olhares de todos. Isso porque, mesmo dona de um currículo invejável no esporte, sente que ainda falta a glória no maior palco do esporte.

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