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TCU vai fiscalizar políticas de combate a assédio sexual na Caixa

Por Folha de São Paulo

29/06/2022 21h05 — em
Economia



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), ministra Ana Arraes, determinou nesta quarta-feira (29) a abertura de uma fiscalização na Caixa Econômica Federal para verificar toda a política de prevenção e combate ao assédio sexual no banco.

O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, é alvo de acusações de assédio sexual relatadas por funcionárias da instituição. O caso foi revelado na terça-feira (28) pelo portal Metrópoles, que relata também a existência de uma investigação no Ministério Público Federal.

Os episódios incluem, segundo os relatos das mulheres, toques íntimos sem consentimento, propostas inadequadas às funcionárias e outras condutas inapropriadas.

Segundo a ministra, o assédio no ambiente de trabalho precisa ser "mais bem enfrentado no âmbito da administração pública, uma vez que, além dos efeitos danosos à vítima, ainda ocasiona prejuízos à instituição e à sociedade".

"Entidades de fiscalização superior, como o Tribunal de Contas da União, não só podem como devem efetivamente atuar para a construção de um sistema eficaz de prevenção e combate ao assédio nos órgãos e entidades públicas, como vem ocorrendo em outros países", afirmou Arraes em nota.

A fiscalização do TCU deve mirar no levantamento de toda a política de prevenção e combate ao assédio sexual dentro da Caixa, examinando canais de denúncia, políticas de preservação do sigilo do denunciante, se há salvaguarda a quem faz uma denúncia e as regras de acompanhamento desses temas.

Em 2020, a corte de contas iniciou uma auditoria operacional para elaborar uma radiografia do tema na administração pública federal. O processo foi relatado pelo ministro Walton Alencar.

Em sua auditoria, o TCU citou números encontrados pela CGU (Controladoria-Geral da União) em estudos sobre as punições ao assédio sexual na administração pública em 2020.

Foram examinados apenas 49 processos disciplinares, instaurados para apuração de situações de assédio sexual, no período de 1º de janeiro de 2015 a 31 de outubro de 2019. Cerca de 19 (38,78%) resultaram na aplicação de algum tipo de penalidade disciplinar. Em 100% dos casos analisados, o assediador era do sexo masculino. Entre as vítimas, 96,5% eram mulheres.

"A pequena quantidade de processos disciplinares e os poucos desfechos, em que houve aplicação de sanção, revela total descompasso com a realidade retratada em pesquisas efetuadas sobre o tema", afirmou o TCU.

Um dos resultados foi a formulação de um modelo de prevenção e combate ao assédio, que deve servir de referência para futuras auditorias. O trabalho, porém, focou na recomendação das melhores práticas, sem tratar individualmente de eventuais falhas nos mecanismos já existentes dos órgãos públicos.

"Esse episódio recente, que merece ser investigado e, se confirmado, punido com todo rigor, é apenas um sintoma grave de um problema muito maior, que é a ausência de políticas eficazes de prevenção e combate ao assédio nas organizações públicas. E, se formos tratar a situação apenas com olhar punitivo, isso não resolverá o futuro, apenas o passado", disse Arraes.

No relato das funcionárias da Caixa surgiram acusações de que a corregedoria do banco não tratou as denúncias com o devido sigilo. Segundo o portal Metrópoles, uma das denunciantes disse que seu caso, após informado à corregedoria, chegou às mãos de auxiliares do gabinete de Guimarães.

Uma funcionária da Caixa disse em depoimento ao jornal Folha de S.Paulo que também foi assediada por Guimarães, presidente da instituição. Ela afirma ter sido puxada pelo pescoço e ter ficado em choque após o episódio. A mulher pediu para ter sua identidade preservada por receio de sofrer retaliação do comando do banco.

Interlocutores no Palácio do Planalto dizem que a manutenção de Pedro Guimarães à frente da Caixa Econômica Federal se tornou insustentável em meio às denúncias envolvendo o executivo.

Para estancar a crise envolvendo o comando do banco público, o presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu escolher uma mulher para substituir Guimarães: a secretária Daniella Marques, braço direito do ministro Paulo Guedes (Economia).


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