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Setor de café vê forte queda nas vendas aos EUA e diz que americano já se adapta à falta de produto brasileiro

Por Folha de São Paulo

12/11/2025 15h06 — em
Economia



RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que vai reduzir "algumas tarifas" sobre o café, um dos principais produtos exportados pelo Brasil, foi recebido de forma positiva pelo setor, que pede que as negociações sejam destravadas em um momento em que o país vê cair ainda mais o ritmo de embarques do grão.

De acordo com o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), a queda nas vendas para os Estados Unidos chegou a 54,4% em outubro, ante os 52,8% de setembro e os 46% de agosto, mês em que a tarifa de 50% passou a vigorar.

"Isso é um prejuízo enorme porque o Brasil está perdendo espaço nos blends das principais marcas dos Estados Unidos e o consumidor norte-americano já começa a se adaptar com esses novos parâmetros sensoriais. Várias outras origens estão com apenas 10% de tarifas e o Brasil segue com 50%, perdendo totalmente a sua competitividade", afirmou o diretor-geral do Cecafé, Marcos Matos.

No caso dos cafés especiais, de maior valor agregado, a redução nos embarques para os Estados Unidos chegou a 67% --o país responde por 20% do mercado global para o Brasil. De 150 mil sacas mensais, o montante foi reduzido a 50 mil, conforme a BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais).

Depois de Trump ter feito a afirmação em entrevista nesta terça-feira (11), o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou nesta quarta (12) que o governo deve anunciar nos próximos dias medidas para reduzir os preços de produtos como café, bananas e outros itens que são importados pelo país.

Matos afirmou que, se a situação das tarifas se prolongar, será difícil para o Brasil reconquistar o espaço que já teve. Por isso, após o anúncio de Trump, o Cecafé entrou em contato com torrefadores brasileiros e voltou a enviar ofícios ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao vice-presidente, Geraldo Alckmin, e ao chanceler Mauro Vieira, destacando as perdas consecutivas de mercado desde agosto.

"Nos últimos dias, a gente viu forte movimentação das quatro principais indústrias torrefadoras dos Estados Unidos, justamente abordando a questão da isenção ao café. O café é o produto que teve maior inflação no último mês levantado, de 21%. No acumulado dos últimos meses aparece como principal produto alimentício. Essa movimentação dos torrefadores levou à manifestação do presidente Donald Trump", disse.

Matos afirmou que, para destravar essa negociação com os Estados Unidos, a melhor estratégia é separar o café dos demais produtos tarifados.

"A negociação pedindo a suspensão de todas as tarifas gera resistência para determinados produtos. O que nós estamos pedindo é que, efetivamente, o Brasil e os Estados Unidos anunciem ao mercado e à sociedade que a negociação efetivamente começou, com exemplo de isenção de grandes e importantes produtos, como é o caso do café."

Isso é factível, na avaliação do executivo, porque ambos os países querem. "A gente conseguiria avançar nas negociações, com um olhar produto a produto. Essa é uma estratégia que pode destravar as negociações dado esse cenário que estamos vendo de algumas resistências."

O posicionamento de Matos também foi defendido na última quinta-feira (6) por Celírio Inácio da Silva, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), durante a SIC (Semana Internacional do Café), em Belo Horizonte.

O executivo afirmou que é "urgente" que as tarifas sejam revistas e que a revisão deve começar pelo café, que não enfrenta obstáculos pelo Brasil ou pelos Estados Unidos.

"Ele tem que ser discutido separado, por vários motivos. O primeiro é porque no café não existe, nem por parte dos Estados Unidos, nem por parte do Brasil, algum óbice. Segundo, se o Brasil começar com algum produto, ele pelo menos mostra a boa vontade. E os Estados Unidos também mostram a boa vontade. Dizer, 'ok, começamos a negociar'", disse.


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