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Prisão dos irmãos Batista deve acelerar processo de mudanças na JBS

Por Agência O Globo

13/09/2017 21h09 — em
Economia



RIO E SÃO PAULO - A prisão preventiva do presidente global da JBS, Wesley Batista, joga em um mar de incertezas aquela que é a maior processadora de proteína animal do mundo, com faturamento de R$ 170 bilhões. Os advogados de Wesley acreditam que ele poderá ser liberado em poucos dias. Na avaliação do mercado, porém, independentemente do desfecho na esfera jurídica, a detenção de Wesley deve acelerar a troca de comando da companhia. O problema é que a JBS não tem um plano claro de sucessão, e, ainda que Wesley seja substituído, a tendência é que os interesses da família prevaleçam, uma vez que ao menos quatro dos oito membros do Conselho de Administração da companhia são alinhados aos Batista.

Wesley foi preso na segunda fase da Operação Tendão de Aquiles, da Polícia Federal, por insider trading (uso de informação privilegiada no mercado). Levantamento feito pelo GLOBO mostra que os controladores da JBS venderam R$ 483,8 milhões em ações da empresa nos meses de abril e maio, evitando perdas milionárias com a desvalorização dos papéis. A pena prevista em lei para esse crime é de um a cinco anos de prisão, além de multa de até três vezes do valor lucrado com as transações.

A indicação de um possível substituto de Wesley tem de ser aprovada por maioria simples no Conselho. Pelo estatuto da empresa, o presidente do órgão tem voto de qualidade, ou seja, em caso de empate, cabe a ele o voto decisivo. Hoje, a presidência do Conselho é ocupada por Tarek Farahat, muito próximo dos irmãos Batista e que, até pouco tempo, era presidente global de Marketing e Inovação da JBS. Wesley e José Batista Sobrinho, ambos da família, ocupam duas cadeiras no Conselho. Há ainda Gilberto Meirelles Xandó Baptista, que estava no comando da Vigor, empresa que pertencia ao grupo J&F (controlador da JBS) e que foi vendida à mexicana Lala.

— A prisão de Wesley é um problema para a JBS. Em algum momento, o Conselho deve nomear um substituto para ele, que não pertença à família Batista. Mas há uma tendência de os interesses dos Batista prevalecerem. Eles são controladores e mantêm alguma relação de proximidade com membros do Conselho — avalia Marcelo López, sócio da gestora de recursos L2 Capital Partners. — O grupo J&F também vive uma incerteza. As recentes vendas de ativos (como Alpargatas e Vigor) são condicionadas ao acordo de leniência da J&F. Se esse acordo der para trás, devido à prisão de seus executivos, essas negociações não vingam. Acho improvável que isso aconteça, mas o risco existe.

O BNDES, que tem 21% da JBS, sendo seu maior acionista individual, mas apenas um representante no Conselho, teria pouca margem para influenciar em uma eventual troca de comando. Os Batista têm 42% da companhia. Por isso, o banco de fomento busca judicialmente vetar o direito de voto da família em assembleia de acionistas, alegando conflito de interesse. Qualquer mudança na presidência da JBS tem de ser referendada em assembleia. Recente decisão da Justiça suspendeu a assembleia de 1º de setembro, na qual seria discutido o afastamento de Wesley, e determinou que a disputa societária fosse solucionada por arbitragem. Na terça-feira, sem saber que o executivo seria preso, a J&F entrou com pedido de arbitragem na Câmara de Arbitragem do Mercado da B3 (ex-Bovespa).

No fim da tarde de quarta-feira, houve reunião informal do Conselho de Administração da JBS, quando os conselheiros foram informados sobre a situação dos controladores — além de Wesley, seu irmão, Joesley Batista, está preso desde domingo — e as expectativas da defesa de ambos. Não houve qualquer deliberação sobre a sucessão de Wesley. Se a prisão do executivo não for revertida nos próximos dias, o Conselho, então, será convocado em caráter oficial para decidir sobre um substituto.

Procurada, a JBS não comentou o assunto, mas fontes ligadas à empresa avaliam que dois nomes surgem como candidatos naturais para substituir Wesley. O mais cotado é o do presidente global de Operações da JBS, Gilberto Tomazoni, que já dirigiu a Sadia. Tarek Farahat também é candidato, mas, pelas regras do Novo Mercado (segmento da Bolsa em que são negociados os papéis da JBS), ele não pode acumular os cargos de presidente-executivo e presidente do Conselho. Um nome de fora da empresa não está descartado, mas a preferência seria por um executivo que já conhece o frigorífico.

Em nota, o BNDES defendeu que um administrador interino seja indicado pelo Conselho. O banco defendeu ainda que, qualquer que seja o desenrolar dos fatos, para a preservação e sustentação da JBS, seria melhor que se iniciasse “uma renovação de seus quadros, inclusive com a abertura de um processo seletivo para a escolha de um novo CEO para a empresa em caráter definitivo”. A prisão de Wesley foi recebida com certa surpresa pelo BNDES. Mas a percepção do banco é que a detenção corrobora a posição que vinha defendendo, de afastar a família do dia a dia da JBS.

Por isso, o BNDES avalia que não deve mudar de estratégia, e sim insistir no seu principal ponto: a proposta de que a própria JBS mova ação contra seus controladores, que teriam causado prejuízo à empresa devido a seu envolvimento em esquema de corrupção. Isso automaticamente afastaria Wesley do comando do frigorífico. Em sua conta no Twitter, o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, escreveu que “chegou a hora de o BNDES resgatar os investimentos de todos nós brasileiros na JBS”.

Para Andreia Cristina Bezerra, do Insper Direito, embora os minoritários saiam fortalecidos na disputa, eles terão de se submeter aos nomes indicados pelo Conselho para substituir Wesley:

— O BNDES pode não concordar, mas fica sujeito ao que for votado pelo Conselho. O ideal seria que o escolhido fosse um nome do mercado, não ligado à família, para melhorar a imagem da empresa.

Opinião semelhante tem Maurício Pedrosa, sócio da gestora Arpa Investimentos:

— A empresa está no olho do furacão de uma enorme crise de governança. Ela teve seu crescimento baseado em hábitos que a sociedade está descobrindo agora. Vai ter que renascer com gestores diferentes.

Uma fonte próxima à empresa diz que o futuro da JBS estava nas mãos de Wesley após a prisão de Joesley. Foi Wesley que pessoalmente negociou com os bancos a rolagem de R$ 17 bilhões em dívidas de curto prazo da companhia, em junho. O empresário deu a garantia de que parte do dinheiro da venda de ativos seria usada para amortizar os débitos com os credores.

Na empresa e no mercado, Wesley é tido como bom administrador e negociador. Liderou o crescimento da JBS e participou efetivamente dos principais negócios do conglomerado. Nos EUA, onde a JBS fincou sua bandeira em 2007, mantinha uma casa na cidade de Greeley, no Colorado, onde costumava passar longas temporadas, após a empresa ter adquirido a Swift e a Pilgrim’s Pride.

Com mandato até 2018, Wesley esperava sair vencedor na disputa com o BNDES, manter-se no cargo e concluir o plano de desinvestimento da companhia, que prevê arrecadar R$ 6 bilhões. Sua transição seria feita de forma natural, sem que houvesse ruptura, como deseja o BNDES. Mas a prisão preventiva, que ele não esperava, atrapalhou essa estratégia e apressa sua sucessão.

— Neste momento, a presença da família no comando da empresa acaba sendo ruim. O impacto para as ações da companhia, a curto prazo, é negativo e gera grande volatilidade — diz Shin Lai, estrategista da Upside Investor.

Desde a operação Carne Fraca da Polícia Federal, em março, o valor de mercado da JBS acumula queda de 24,16%, ou R$ 7 bilhões, para R$ 22,18 bilhões. Desde a divulgação da delação premiada do grupo pelo GLOBO, em maio, a desvalorização foi de 14,53%, ou R$ 3,76 bilhões.

Wesley não estava na mira do procurador Rodrigo Janot nem tinha sua delação ameaçada. Mas acabou sendo preso por crime financeiro.

— Não ficamos surpresos com a prisão do Wesley, mas sim pelo motivo. Pela primeira vez alguém é preso por insider trading — disse Aurélio Valporto, vice-presidente da Associação dos Investidores Minoritários do Brasil.


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