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Nova variante e aperto monetário nos EUA deixam Bolsa perto de perder os 100 mil pontos

Por Folha de São Paulo

30/11/2021 21h36 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa de Valores brasileira chegou perto de fechar abaixo dos 100 mil pontos nesta terça-feira (30), em um dia de preocupação sobre a eficácia das vacinas no controle da pandemia da Covid-19 e com a sinalização de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) poderá acelerar o fim do seu programa emergencial de compra de ativos e antecipar o aumento dos juros básicos nos Estados Unidos, o que reduziria a disponibilidade de dinheiro para investimentos nos mercados de ações globais.

O Ibovespa fechou em queda de 0,87%, a 101.915 pontos. O recuo em novembro foi de 1,53%, e pela quinta vez seguida o índice encerra um mês no vermelho. A última alta mensal, de 0,46%, ocorreu em junho. De lá para cá, o mercado acionário do país já afundou 19,63%.

O resultado desta terça também renova a pior marca diária do índice desde 6 de novembro de 2020, quando fechou em 100.925 pontos.

Na mínima do dia, o Ibovespa recuou a 100.074 pontos. Desde 4 de novembro de 2020 a Bolsa não fecha abaixo dos 100 mil pontos, marca alcançada pela primeira vez em um encerramento de pregão em 19 de junho de 2019.

O dólar subiu 0,42%, a R$ 5,6370, refletindo a expectativa de valorização mundial da moeda devido à possível mudança na política monetária americana.

Acompanhando as quedas dos mercados da Ásia, Europa e dos Estados Unidos após um novo alarme sobre os riscos da nova variante do coronavírus, a Bolsa brasileira passou a maior parte do dia negativa.

Os investidores foram abalados pela declaração do presidente da farmacêutica Moderna, Stéphane Bancel, sobre a possibilidade de que as vacinas contra Covid-19 existentes não sejam tão eficazes contra a variante ômicron quanto são contra a delta.

"Não existe um mundo, acho, onde [a eficácia] é do mesmo nível que tivemos com a delta", disse Bancel ao jornal Financial Times.

O ambiente para investimentos em ações piorou no decorrer do dia após o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmar que a autoridade monetária americana discutirá a aceleração da redução de suas compras de títulos em sua próxima reunião.

Desde o início da pandemia o banco central dos Estados Unidos compra ativos, além de manter os juros básicos praticamente zerados, como forma de ampliar a liquidez e, assim, reduzir os efeitos da crise gerada pela pandemia.

Com a retomada econômica e a inflação ganhando força, o Fed deu início a uma retirada lenta e gradual desses estímulos para tentar desacelerar a alta nos preços.

A declaração de Powell surpreendeu o mercado porque as notícias sobre a nova variante do coronavírus levaram investidores a apostar que a autoridade americana poderia até mesmo desacelerar ainda mais a retirada dos incentivos.

A pressão inflacionária obrigará o Fed a pôr fim a um ciclo de oferta de liquidez que remonta à crise imobiliária nos Estados Unidos em 2008, avaliou Luis Stuhlberger, gestor da Verde Asset Management, ao traçar um cenário para 2022 durante evento da empresa de análise Inversa.

Para Stuhlberger, a conta parece ter chegado e está representada na queda na popularidade do presidente americano Joe Biden, muito em razão da inflação, que tira o poder de compra da população. "Esse é um aviso de que o banco central [americano] não pode tudo", disse.

Os índices de ações americanos fecharam com quedas acentuadas. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq cederam 1,86%, 1,90% e 1,55%, respectivamente.

Na Europa, as bolsas de Londres, Paris e Frankfurt caíram 0,71%, 0,81% e 1,18%, respectivamente. O índice Euro Stoxx 50, que acompanha 50 das principais empresas da região, perdeu 1,13%.

Na Ásia, as bolsas de Tóquio e Hong Kong fecharam em queda de 1,63% e 1,58%, cada. O índice para empresas chinesas de Xangai e Shenzhen cedeu 0,40%.

Os acontecimentos internacionais colocaram em segundo plano o andamento da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios no Congresso, cujo atraso na conclusão é um dos principais motivos para as perdas do Ibovespa ao longo do mês.

Para garantir a aprovação no Senado da PEC dos Precatórios, que viabiliza o Auxílio Brasil de R$ 400, o governo cedeu à pressão e aceitou deixar despesas com dívidas ligadas ao Fundef (fundo da área de educação) fora do teto dos gastos. Isso abriu caminho para que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) aprovasse nesta terça a nova versão da PEC, que agora segue para o plenário do Senado.

Para Stuhlberger, da Verde, o governo teria evitado parte da deterioração do Ibovespa se já tivesse vendido ao mercado a proposta que está em análise hoje pelo Congresso. "Agora é aquela história, a pasta de dente saiu do tubo, e você não pode colocar ela de volta."

Críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a política de preços da Petrobras ainda deram contribuições menos significativas para o resultado negativo no mercado acionário do país.

O índice chegou à mínima do dia, porém, às 14h09, pouco depois de começar a circular na imprensa uma declaração de Lula sobre a sua intenção de alterar a atual política de preços da estatal.

"Digo em alto e bom som: nós não vamos manter essa política de preços de aumento do gás e da gasolina que a Petrobras adotou por ter nivelado os preços pelo mercado internacional. Quem tem que lucrar com a Petrobras é o povo brasileiro", disse Lula em entrevista à Rádio Gaúcha.

Analistas avaliam que as declarações têm pouca participação nos resultados negativos de Ibovespa e Petrobras.

Felipe Vella, da Ativa Investimentos, atribuiu as perdas a temores de nova desaceleração econômica provocada pela variante ômicron, combinada à ampliação da aversão ao risco proporcionada por manifestação do Fed (Federal Reserve) sobre uma retirada mais rápida dos estímulos econômicos nos Estados Unidos.

Rodrigo Crespi, da Guide, destacou que o contexto global derrubou a cotação do petróleo, prejudicando empresas ligadas à commodity.

"O que pesa muito mais na Petrobras é a queda do petróleo tipo Brent, que chegou a romper a barreira dos US$ 70 (R$ 393,35) por barril, o que acabou afetando todo o setor ligado à commodity listado na Bolsa", diz.

Ao final do dia, o petróleo fechou em queda de 3,91%, a US$ 70,57 (R$ 396,55).

As ações preferenciais da Petrobras caíram 0,14%, respondendo pelo maior volume de negociações da Bolsa.

Itaú Unibanco e Bradesco recuaram 1,24% e 1,78%, respectivamente.

A Vale subiu 0,65%, respondendo à alta no mercado futuro de minério de ferro. A maior alta do dia foi da CCR, que avançou 6,95%.

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Colaborou Lucas Bombana


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