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Negociação de BDRs cresce mais de 460% com adesão de pessoa física

Por Folha de São Paulo

17/01/2021 21h00 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os BDRs (recibos depositários de ações, na sigla em inglês) entraram com força na carteira dos brasileiros. Em 2020, eles ficaram disponíveis a pessoas física, e sua negociação subiu 462,8% em relação a 2019, chegando a R$ 28,59 bilhões em dezembro, com pouco mais de dois meses da mudança na regra.

Por meio deste recibo, é possível investir em ações listadas em outros países, como Tesla, Mercado Livre e Apple, as favoritas do investidor brasileiro.

Antes era necessário abrir uma conta em uma corretora estrangeira e mandar dinheiro para fora do país.

Agora, por meio do BDR, o investidor compra um recibo emitido por um banco lastreado em uma ação listada no exterior. Neste caso, a ação não vai para o nome do comprador, mas a variação no preço da BDR acompanha a da ação.

Como BDRs são negociadas em reais, o câmbio é outra variante neste investimento. A alta de 29,27% do dólar em 2020 se somou à recuperação expressiva das ações em Wall Street gerando ganhos expressivos para BDRs, que atraíram ainda mais os brasileiros.

"A valorização foi brutal. As Bolsas explodiram e o real se desvalorizou muito. O BDR ganhou as duas valorizações", diz Francisco Levy, planejador financeiro CFP pela Planejar.

Em 2020, o índice americano Dow Jones subiu 6,84%. O S&P 500 teve alta de 15,86% e o Nasdaq, de 43,86%.

"A alta está exagerada. Eu olho os preços e não vale a pena", afirma Levy.

Alguns investidores acreditam que a valorização em meio a uma alta nos novos casos de Covid-19, enquanto a economia não se recuperou, é exagerada, especialmente nas ações de Tesla, que subiu 737,69%, e Mercado Livre, com alta 193,39%.

"A relação preço-lucro das americanas está em patamares elevadíssimos, semelhante apenas a épocas pré-crise", diz o planejador.

Além da rentabilidade nos últimos meses, a reputação de empresas como Microsoft e Amazon também atrai o brasileiro.

O número de investidores na modalidade cresceu 162,64% de outubro a dezembro, chegando a 128,8 mil. Destes, 127,8 mil são pessoas físicas.

"As pessoas conhecem essas empresas. São as maiores empresas do mundo, nomes conhecidos", diz Leonardo Milane, sócio e economista da VLG Investimentos e professor da FIA (Fundação Instituto de Administração).

Mesmo conhecidas, suas ações têm risco. A variação está sujeita aos movimentos do mercado, que podem não estar relacionados ao papel e ao setor.

"Ação pode chacoalhar bastante, mas BDR é reserva em dólar também", diz Milane.

"O risco deste papel é absurdamente maior do que de uma ação brasileira. Se ações lá [nos EUA] caírem e o real ficar mais forte, o sujeito perde duas vezes", afirma Levy, da Planejar.

A expectativa do mercado é que o dólar caia em relação ao real ao longo de 2021, com alta na Selic. Segundo o boletim Focus, a taxa básica de juros, hoje em 2%, deve terminar o ano a 3,5%.

Com a alta nos juros, dólares poderiam entrar no país por meio do carry trade, prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior.

Com juro a 3,5% no Brasil e próximo de zero nos Estados Unidos e na Europa, o mercado brasileiro fica mais atrativo para estrangeiros.

A expectativa de valorização do real em relação ao dólar, porém, não é alta. O Itaú projeta o dólar a R$ 4,75 ao fim de 2021 e de 2022.

"Precisaria acontecer um milagre com o contexto que temos hoje para o dólar ir para R$ 4", afirma Milane, em referência ao risco fiscal brasileiro.

Com a dívida pública em torno de 90% do PIB (Produto Interno Bruto), o Brasil se torna mais arriscado para investimentos. A perspectiva é que os gastos aumentem, conforme a pandemia se prolonga, aumentando o endividamento brasileiro.

Pelo contexto desfavorável ao real no momento, o economista vê BDR como um bom investimento. "Vale o risco retorno", afirma ela.

O indicado por especialistas, para qualquer investimento, é diversificar, de modo a reduzir os riscos, e, antes de tudo, estudar,tanto a natureza do ativo, como o ativo em questão.

No caso das BDRs, é preciso estar atento às empresas estrangeiras e seus setores.

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