Gastos de orçamento familiar de brancos são 47% maiores que pretos ou pardos, diz IBGE
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O mapa das despesas das famílias brasileiras reforçam as desigualdades existentes na sociedade do país nos quesitos raça e gênero. Aquelas comandadas por brancos chegam a ter gastos de orçamentos em média 47% maiores do que aquelas representadas por chefes pretos e pardos. Entre as mulheres, as despesas totais per capita são 12,4% inferiores às que têm homens como referência. É o que mostra uma nova divulgação da POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) 2017-2018: Perfil das despesas no Brasil, divulgada nesta quarta-feira (25) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Enquanto a renda de famílias chefiadas por brancos naquele período girava na cada de R$ 2.279,19, as chefiadas por pretos e pardos ficavam em R$ 1.207,11, uma diferença de 47%. "Nota-se uma grande diferença na despesa total per capita entre famílias com pessoas de referência pretas ou pardas e brancas", apontou o IBGE na pesquisa. Assim, é possível ver o contraste nas despesas em habitação (R$ 330,72 para pretos ou pardos e R$ 644,31 para brancos), assistência à saúde (R$ 94,99 para famílias chefiadas por pretos ou pardos e R$ 183,94 quando a pessoa de referência é branca) e alimentação (R$ 181,60 com pretos ou pardas e R$ 269,44 com brancos). A distinção também é encontrada por gênero. Enquanto a despesa das famílias com chefes do sexo feminino ficava por volta de R$ 1.524,71 por mês, os gastos chegavam a R$ 1.764,73 quando a pessoa de referência no núcleo familiar é homem. Segundo a pesquisa, a maior diferença de gastos por gênero é no grupo dos transportes, com R$ 268,96 em famílias chefiadas por homens e R$ 182,29 por mulheres, uma diferença de 32,2%. Outro item que tem peso no orçamento feminino é a educação, com participação de 9,7% (R$ 119,21) contra 8,3% dos homens (R$ 127,30). A POF já teve alguns resultados divulgados entre 2019 e 2020. Desta vez, a pesquisa trouxe informações inéditas sobre despesas de acordo com o sexo, a raça e o nível de instrução da pessoa de referência da família. Com relação à escolaridade, as famílias com chefes com ensino superior completo tinham despesas médias de R$ 3.166,48, contra R$ 689,03 das que tem como pessoa de referência alguém sem instrução. A desigualdade é vista principalmente em gastos fundamentais, como habitação (R$ 1.110,19 ao grupo mais rico e R$ 239,51 ao mais pobre), transporte (R$ 615,98 a R$ 78,48, respectivamente) e outras despesas correntes (R$ 695,78 a R$ 40,58). São classificadas como outras despesas correntes quaisquer gastos que não estejam incluídos nos grupos alimentação, habitação, vestuário, transporte, higiene e cuidados pessoais, assistência à saúde, educação, recreação e cultura, fumo e serviços pessoais. O IBGE trabalha na POF com dois conceitos de renda, monetária e não monetária. O IBGE classifica como renda não monetária o ganho que as famílias têm sem que ocorra contrapartida financeira de governo, instituições ou outras famílias. Um exemplo é morar de favor na casa de um parente que não cobra aluguel. A renda monetária, por sua vez, reúne valores efetivamente recebidos. A POF apontou que a renda disponível familiar per capita média no Brasil em 2018 ficou em R$ 1.650,78, sendo que R$ 379,97 (23%) eram adquiridos de forma não monetária. A renda monetária é de R$ 1.434,15 (86,9%), mas sofre deduções de R$ 163,34 (9,9%). A contribuição dos brancos na renda média familiar per capital mensal girava em torno de R$ 928,32, enquanto dos pretos e pardos ficava em R$ 689,85. Com relação a homens e mulheres, essa diferença fica ainda maior: R$ 1039,21 e R$ 611,57, respectivamente. Já a despesa total per capita foi de R$ 1.667,90, sendo que as despesas de consumo totalizaram R$ 1.370,53. A maior parcela vem de habitação (R$ 466,34), seguida de transporte (R$ 234,08) e alimentação (R$ 219,44). Outros dados mostrados pela pesquisa são referentes a serviços de saúde e utilidade pública. Apenas 18,1% dos brasileiros viviam em famílias em que todos possuíam plano saúde e 17,4% em que ao menos uma pessoa tinha o serviço. A maioria (64,4%), contudo, vivia em famílias em que ninguém tinha plano de saúde. A despesa per capita com saúde foi de R$ 133,23, sendo a maior parte foi com serviços de saúde (R$ 86,48) e o restante com medicamentos e produtos farmacêuticos (R$ 46,75). Já a despesa média per capita com serviços de utilidade pública, como energia elétrica, água e esgoto, gás doméstico, telefone fixo e celular, TV por assinatura e internet, foi de R$ 114,12. Desse total, os serviços de comunicação representam a maior fatia R$ 45,16.
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