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Fitch prevê que Caixa e BB precisarão de aporte de capital

Por Agência O Globo

28/09/2016 15h52 — em
Economia



SÃO PAULO - A Fitch avalia que, entre o final de 2017 e início de 2018, os bancos públicos, em especial Caixa e Banco do Brasil, irão precisar de um aporte de capital para que possam estar enquadrados nas novas regras de requerimento de capital, a chamada Basileia 3. Essa regra determina o quanto o banco deve ter de patrimônio para assumir um determinado nível de risco (operações de crédito).

— Os grandes bancos privados não devem encontrar problema, mas os públicos são outra história. Caixa e BB são os bancos em que vemos um ajuste mais forte. No nosso modelo interno, precisariam de um aporte até 2018, isso se nada acontecer — isso Raphael Nascimento, analista de diretor de instituições financeiras da agência de classificação de risco Fitch Ratings.

Basileia 3 deverá estar completamente implementada até janeiro de 2019, ou seja, os bancos terão até 2018 para fazer os ajustes. Entre as novas regras, está a exigência de um volume mínimo de capital principal, que deve ser de 4,5% dos ativos de risco, e o capital de nível 1 (atualmente é de 6% dos ativos e deverá chegar a 8% em 2019).

Robert Stoll, analista da Fitch em Nova York, lembra que os bancos públicos, além da situação de crise econômica no país, devem se preocupar também com esse ajuste. Para isso, deve considerar a venda de ativos, mas de forma que isso represente um bom retorno às instituições. Ele lembrou que o Banco do Brasil já falou da possibilidade de vender a participação no Banco Votorantim e Patagônia (Argentina). No caso da Caixa, há a possibilidade de venda da fatia no Banco Pan.

É também preciso pensar, no caso dos bancos públicos, no corte de despesas e em uma destinação aos créditos inadimplentes (que podem ser vendidos a empresas especializadas nesse tipo de operação).

— A estrutura dos bancos públicos é muito mais pesada pela própria natureza deles — afirmou, durante palestra no Fórum de Investidores de Instituições Financeiras, realizado nesta quarta-feira pela agência de classificação de risco.

Uma das preocupações da agência é com a possibilidade dos bancos públicos precisarem aportar recursos nos fundos de pensão de seus funcionários.

— Quanto maior o déficit atuarial, maior deve ser o aporte do patrocinador. Claro que o beneficiário pode ser chamado a contribuir também ou ter uma alteração no benefício. Mas o que olhamos é o impacto que isso pode ter no capital do banco e não há nada muito bem definido neste momento — explicou Pedro Gomes, também analista da área de instituições financeiras.

A perspectiva da Fitch para os bancos no Brasil é negativa, e não só as públicas. Claudio Galina, responsável pela área de instituições financeiras, uma série de fatores veem reforçando essa visão. Após a desaceleração do crédito e aumento da inflação, as instituições começaram a ver a elevação dos índices de inadimplência, exigindo maiores despesas com despesas de devedores duvidosos, e as próprias implicações da operação Lava Jato (as construtoras entraram em recuperação judicial).

— Mas isso não significa que o sistema financeira corra um risco sistêmico — explicou, lembrando que 85% dos bancos avaliados pela Fitch tem perspectiva negativa.

A mudança desse cenário depende de mudanças macroeconômicas, como a retomada do crescimento. A Fitch espera que a inadimplência do setor no Brasil chegue a 4,2% neste ano e a 4,8% no ano que vem, uma vez que o desemprego continuará em alta.

Segundo Rafael Guedes, diretor executivo da Fitch no Brasil, a expectativa é que o PIB do Brasil tenha uma retração de 3,3% neste ano e um crescimento de apenas 0,7% no ano que vem. Para ele, o anúncio da nova equipe econômica e das medidas de ajuste fiscal foram positivos, mas é preciso que ocorra a implementação.

— Anúncios são positivos, mas estamos no início das tarefas. A reconstrução da credibilidade dependerá do atingimento das metas propostas — lembrou.


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