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Dólar sobe e Bolsa ronda estabilidade com Galípolo e possível fim de paralisação nos EUA no radar

Por Folha de São Paulo

12/11/2025 10h34 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar sobe nesta quarta-feira (12), com investidores atentos a um possível encerramento da paralisação do governo dos EUA e às falas do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, nesta manhã.

O movimento vai na contramão do registrado na véspera quando a moeda americana atingiu seu menor valor desde junho de 2024. Contaminada pelo otimismo, a Bolsa encerrou o dia com um novo recorde de fechamento, de 157.748 pontos.

Às 11h23, a moeda norte-americana avançava 0,37%, cotada a R$ 5,282 e seguindo uma tendência do exterior —o índice DXY, que mede o desempenho da divisa frente a uma cesta de seis moedas subia 0,24%. No mesmo horário, a Bolsa rondava a estabilidade, com baixa de 0,04%, a 157.679 pontos.

Os investidores acompanham o movimento no exterior. A forte valorização dos ativos brasileiros reflete a disposição dos mercados globais por investimentos considerados mais arriscados. Esse movimento, apelidado de "apetite por risco" no jargão, teve início na noite de segunda-feira (10), quando o Senado dos Estados Unidos aprovou um projeto de lei para reestabelecer o financiamento para agências federais.

Com 60 votos favoráveis e 40 contrários, a Casa deu o primeiro passo para encerrar a maior paralisação da história do governo norte-americano, em curso desde 1º de outubro.

Para valer, o projeto precisa ser aprovada pela Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil), controlada pelos republicanos, e receber a sanção do presidente americano, Donald Trump.

O presidente da Casa, Mike Johnson, afirmou que pretende aprová-lo até esta quarta-feira. Trump classificou o acordo para reabrir o governo como "muito bom".

A medida prorroga o financiamento federal até 30 de janeiro, mantendo o governo no caminho de adicionar cerca de US$ 1,8 trilhão por ano à dívida pública, que já soma US$ 38 trilhões.

Para os mercados, o possível encerramento do shutdown guarda a promessa de normalização. A falta de financiamento deixou centenas de milhares de servidores em licença não remunerada, voos em atraso e, no ponto mais sensível para os operadores, o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) no escuro.

A paralisação afetou a divulgação de dados econômicos essenciais para balizar as decisões de política monetária do banco central, como de inflação e de desemprego. A falta de visibilidade sobre a temperatura da economia pode impedir a continuidade do ciclo de cortes de juros —possibilidade aventada pelo presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista coletiva após a reunião de outubro.

Segundo Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, o fim do shutdown deve permitir aos investidores melhor compreenderem a economia dos EUA. " A paralisação prejudicou a coleta de informações econômicas pelas agências que estavam fechadas, e elas devem retomar a publicação do que for possível", diz.

Fernanda Campolina, sócia da One Investimentos, afirma que a tendência é que, com o fim da paralisação, o Fed se sinta "mais confortável" para realizar novos cortes ainda em 2025, "o que favorece mercados emergentes como o Brasil".

Reduções nos juros dos EUA costumam ser uma boa notícia para os mercados globais. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, também chamados de "treasuries", são um investimento praticamente livre de risco.

Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.

No caso do Brasil, há ainda mais um fator que favorece os ativos domésticos: o diferencial de juros. Quando a taxa nos Estados Unidos cai e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de "carry trade". Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro.

Por isso, a ata da última reunião do Copom, divulgada mais cedo na terça, reforçou o otimismo. O documento mostrou que o comitê está mais convicto de que a manutenção da taxa básica de juros do país em 15% por tempo "bastante prolongado" será suficiente para levar a inflação à meta.

O colegiado reconheceu que houve moderação gradual na atividade econômica, "certa" diminuição da inflação corrente e "alguma" redução nas expectativas de inflação. Apesar do avanço, as expectativas permanecem acima da meta buscada pelo BC, e esse cenário requer juros altos.

Investidores também acompanham falas de Gabriel Galípolo à procura de sinalizações dos próximos movimentos do Banco Central.

Ele participará de entrevista coletiva sobre o Relatório de Estabilidade Financeira (REF), às 10h, e de evento promovido pelo Bradesco Asset Management, às 14h, ambos em São Paulo.

O mercado espera que o primeiro corte da taxa Selic aconteça na primeira reunião do ano que vem, em janeiro. Essa perspectiva impulsionou o Ibovespa, afirma Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.

Dados de inflação do IPCA, o índice oficial de inflação do país, também foram motor para o impulso. O indicador subiu 0,09% em outubro, abaixo da taxa de 0,48% de setembro e da mediana de projeções de 0,15% da Bloomberg. Em 12 meses até outubro a inflação foi de 4,68%, ante expectativa de 4,75%.

"A inflação mais baixa e o recuo dos juros futuros ampliam o apetite por risco e sustentam o ingresso de capital estrangeiro", diz Sashini.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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