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Crédito sem vínculo direto a bancos ganha espaço na pandemia

Por Folha de São Paulo

07/07/2020 12h25 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A dificuldade de pequenos e médios empresários em acessar o crédito tem impulsionado a busca por fontes alternativas de recursos no sistema financeiro durante a crise deflagrada pela pandemia do novo coronavírus.

De fundos à fintechs, (iniciativas tecnológicas voltadas para o sistema financeiro), a procura tem sido por juros mais baixos, prazos mais longos ou mesmo pela simples oportunidade de ter acesso ao dinheiro.

Uma dessas alternativas foi o Estímulo 2020, primeiro fundo privado do Brasil dedicado a dar alívio financeiro a pequenos negócios baqueados pela crise. A iniciativa foi lançada pelo empresário Eduardo Mufarej, que fez carreira no mercado financeiro, participou de empresas como Tarpon Investimentos e fundou o RenovaBR, movimento que busca capacitar novas lideranças políticas.

Lançado em 1º de maio, o fundo captou R$ 130 milhões e emprestou recursos a 320 empresas. O juro médio da operação em São Paulo, onde o projeto teve início, foi de 4% ao ano -bem abaixo da média total de 12% ao ano, registrada para pessoas jurídicas em maio, pelo BC.

Mufarej conta que a proposta foi criar uma solução rápida e sem burocracia.

"Como sabíamos que nosso tamanho era pequeno, dado o tamanho do problema, quisemos chamar atenção: é preciso ser rápido e dinâmico na concessão de crédito em uma crise para fazer com que as barreiras de acesso, que existem para os pequenos empresários, sejam menores", afirma ele.

Diferentemente de um banco, no entanto, o fundo não fica aberto para solicitções de crédito: as chamadas "rodadas de pedidos" são abertas conforme a captação de recursos que a iniciativa faz.

Ainda no hall de alternativas de crédito para pequenos negócios, uma linha recente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), divulgada no início de junho, também começa a ganhar espaço no mercado.

Chamada de BNDES Crédito Cadeias Produtivas, o empréstimo é feito por meio de uma "empresa-âncora" -companhia de grande porte, beneficiária direta do empréstimo. Essa empresa, então, repassa os recursos recebidos para a sua cadeia de fornecedores, distribuidores ou franqueados, viabilizando o acesso ao capital de giro.

Os recursos são repassados nas mesmas condições previstas no contrato da empresa-âncora, o que, segundo o BNDES, garante custos finais adequados. A companhia de grande porte atua apenas como repassadora e não tem lucro financeiro com essa operação.

"O mercado tem demonstrado interesse no programa e muitas empresas já entraram em contato com o BNDES para conversar sobre essa solução financeira. Dentre os vários desafios impostos pela pandemia, o apoio a pequenas e médias empresas e a preservação das cadeias produtivas são dos mais importantes", afirmou o BNDES em nota.

"O programa tem o objetivo de construir alternativas para acesso a crédito para MPMEs [micro, pequenas e médias empresas] e se insere no plano de ação amplo do BNDES de combate aos efeitos da crise", disse o banco de fomento. Afirmou também que está em fase de operacionalização do programa, que tem orçamento de R$ 2 bilhões.

A pandemia trouxe ainda um movimento novo entre algumas fintechs de crédito. Segundo Bruno Sayão, presidente da IOUU fintech, a demanda mais do que dobrou em maio com relação ao observado em março, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou a pandemia de coronavírus.

A empresa trabalha com um tipo de empréstimo chamado de P2P (peer to peer, ponto a ponto, numa tradução livre), modalidade em que o crédito é negociado pessoa-pessoa ou empresa-empresa numa plataforma.

"Também resolvemos manter nossas taxas de juros e controlar a inadimplência por meio da renegociação de créditos concedidos ou de carência para o pagamento. Também diminuímos o tíquete médio das operações, de R$ 70 mil para R$ 50 mil, como forma de agilizar nossos processos de captação", afirmou.

O crédito P2P funciona por meio da captação de recursos com investidores pessoas físicas ou jurídicas que recebem um juro em troca desse "empréstimo". A fintech funciona como intermediador da operação.

O motivo para crescimento da demanda já é amplamente discutido pelo mercado desde o início da pandemia. Apesar da injeção de recursos que o governo tem feito no sistema financeiro para ajudar empresas a atravessarem o momento de crise, um levantamento recente feito pela Folha apontou que apenas 20% desses valores foram efetivamente emprestados.

Pequenos empresários também já haviam relatado dificuldade no acesso ao crédito, com juros altos, excesso de burocracia e de exigências de garantias, além da falta de resposta dos bancos.

Mas, se de um lado a pandemia aumentou a procura de crédito nessas fintechs, no entanto, de outro também diminuiu o apetite de risco desses investidores na alocação de recursos.

Além disso, segundo o líder da vertical de crédito da ABFintechs (Associação Brasileira de Fintechs), Fábio Neufeld, ainda que todas as fintechs de crédito tenham percebido maior demanda, as taxas de aprovação (quantidade de créditos efetivamente concedidos) diminuíram.

"Não é questão de retorno, mas as fintechs também não podem sujar seu histórico de carteira concedendo para empresas que não vão pagar. As fintechs diminuíram a velocidade de concessão porque, bem ou mal, o risco aumentou e é natural que essas iniciativas se resguardem um pouco mais. É a primeira crise que elas estão enfrentando", afirmou o executivo.

Segundo Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), a análise de crédito do sistema financeiro ainda tende a ficar prejudicada, uma vez que as incertezas sobre o avanço e continuidade do coronavírus continuam.

"Análise de crédito não acontece em cima de otimismo, mas de possibilidades concretas. E é aqui que entra a participação de novas linhas de crédito, adequadas para as necessidades do mercado. É preciso criar pontes alternativas de travessia para este momento", afirmou.

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