Bolsa renova recorde e fecha em 155 mil pontos pela primeira vez; dólar recua para R$ 5,30
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira renovou o recorde histórico pela 11ª sessão consecutiva nesta segunda-feira (10).
No fechamento, o Ibovespa avançou 0,69% em relação ao pregão anterior, a 155.132 pontos, segundo dados preliminares. Foi a primeira vez que o índice chegou a 155 mil pontos, tendo alcançado 155.601 no pico do dia nova máxima durante o período de negociações.
Já o dólar recuou 0,53%, cotado a R$ 5,306, em linha com o movimento da divisa no exterior em relação a outras moedas emergentes.
O dia foi embalado pela possibilidade da paralisação do governo dos Estados Unidos chegar a um fim, depois que o Senado norte-americano avançou, no domingo, com um projeto para financiar a máquina pública até o fim de janeiro.
A expectativa pelo encerramento da maior paralisação da história do governo dos Estados Unidos injetou ânimo nos mercados e aumentou o apetite por risco dos investidores. Em Wall Street, o S&P 500 e o Nasdaq Composite avançaram 1,61% e 2,27%, respectivamente, estimulando o bom humor nas demais praças globais.
O Senado norte-americano deu o primeiro passo para encerrar o mais longo shutdown da história dos EUA, depois que um grupo de democratas rompeu o bloqueio do partido e votou com os republicanos para avançar a proposta que pode reabrir o governo.
A votação de procedimento, que teve 60 votos favoráveis e 40 contrários, abriu caminho para que o projeto de gastos começasse a tramitar no Congresso. Ele ainda precisará ser debatido e aprovado pelo plenário do Senado, obter o aval da Câmara e ser sancionado por Trump para valer.
Oito senadores democratas votaram a favor da medida, que deve financiar a maioria das agências federais até janeiro. A decisão dos dissidentes permitiu que os republicanos, até então incapazes de aprovar um orçamento temporário, finalmente atingissem os 60 votos necessários para avançar. Ainda assim, a reabertura efetiva do governo pode demorar.
A votação inicia o debate formal da proposta no Senado antes da decisão final. Caso aprovada, ela seguirá para a Câmara em recesso prolongado e sem data definida de retorno e, depois, para a assinatura de Trump.
Para os mercados, o possível encerramento do shutdown guarda a promessa de normalização. A falta de financiamento deixou centenas de milhares de servidores em licença não remunerada, milhões de pessoas em risco de perder assistência alimentar, voos em atraso e, no ponto mais sensível para os operadores, o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) no escuro.
A paralisação afetou a divulgação de dados econômicos essenciais para balizar as decisões de política monetária do banco central, como de inflação e de desemprego. A falta de visibilidade sobre a temperatura da economia pode impedir a continuidade do ciclo de cortes de juros possibilidade aventada pelo presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista coletiva após a reunião de outubro.
"O que você faz quando está dirigindo sob neblina? Você diminui a velocidade", afirmou.
Assim, a perspectiva do fim da paralisação alivia a incerteza sobre a economia norte-americana, dando força aos mercados globais de ações e às moedas de países emergentes, como o real, o rand sul-africano, o peso mexicano e o peso chileno.
No caso da Bolsa brasileira, "o desafio é manter o bom desempenho registrado nas últimas sessões", diz Marco Ribeiro Noernberg, sócio e estrategista de renda variável da Manchester.
A agenda da semana, porém, guarda gatilhos que podem desencadear uma realização de lucros por parte dos investidores. Na terça, o Copom (Comitê de Política Monetária) divulga a ata da última reunião, quando decidiu por manter a taxa Selic inalterada em 15% e reforçou que ela ficará neste patamar "por tempo bastante prolongado".
A terça também guarda os dados da inflação oficial de outubro, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
"Tanto a ata quanto o IPCA podem trazer novas perspectivas para o início da política de corte de juros", diz Noernberg.
No mercado de câmbio, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, melhor para o real. Quando a taxa por lá cai como ocorreu nas últimas duas reuniões do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de "carry trade".
Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.
Mas, para a renda variável, os efeitos de uma Selic alta não são tão positivos assim. A taxa de juros em 15% estimula a renda fixa, tradicionalmente mais segura que a variável por ter previsibilidade no retorno e, em alguns casos, baixo risco de calote. Com isso, investidores podem optado por alocar recursos na renda fixa do que na variável, desaquecendo a classe de investimentos.
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