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Bolsa fecha pior trimestre desde o início da pandemia

Por Folha de São Paulo

30/06/2022 18h07 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O mercado de ações do Brasil fechou junho com a maior queda trimestral desde o início da pandemia de Covid-19. O tombo acompanha a baixa no exterior, mas também é agravado pelo cenário político doméstico, com o presidente Jair Bolsonaro (PL) buscando melhorar suas chances de reeleição por meio da ampliação de gastos públicos.

No encerramento deste mês, os olhos do mercado se voltaram para a discussão no Congresso sobre a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 1, apelidada PEC Kamikaze, que prevê a liberação de gastos do governo federal e a criação de novos benefícios sociais.

Esse tipo de medida preocupa investidores, pois aumenta o endividamento e traz ameaças à execução futura do Orçamento. É o que analistas costumam chamar de risco fiscal.

Ao final do pregão desta quinta-feira (30), o indicador de referência da Bolsa de Valores brasileira caiu 1,08%, a 98.541 pontos. No fechamento do segundo trimestre de 2022, o Ibovespa afundou 17,88%. É pior resultado desde o mergulho de 36,86% apurado no encerramento do primeiro trimestre de 2020.

Com queda mensal de 11,5%, o Ibovespa também teve em junho o seu pior mês desde o tombo de 29,9% em março de 2020, quando a confirmação de que a Covid tinha se espalhado pelo globo gerou pânico entre investidores.

No acumulado do primeiro semestre de 2022, a Bolsa caiu 5,99%.

"O mercado fechou em queda muito por conta da PEC dos Combustíveis [agora chamada Kamikaze]", comentou Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos "Vai aumentar o endividamento e isso tem causado desconfiança entre investidores, que estão tirando dinheiro do país."

Meira reforça, porém, o peso considerável do exterior no resultado negativo do Ibovespa. "Expectativas ruins sobre núcleos de inflação nos Estados Unidos fizeram o mercado lá fora desabar e, consequentemente, isso trouxe mais pressão."

DÓLAR TEM MAIOR ALTA MENSAL DESDE MARÇO DE 2020

O dólar comercial à vista fechou com valorização de 0,80%, cotado a R$ 5,2320 na venda. A moeda americana obteve o maior ganho mensal desde março de 2020.

O salto em junho foi de 10%, enquanto a alta no mês marcado pelo início da pandemia chegou perto dos 16%, segundo cálculos preliminares da agência Reuters.

"O dólar se valoriza frente ao real com os investidores reticentes à tomada de risco e apoiados em moeda forte", comentou Leandro De Checchi , analisa da Clear Corretora.

Apesar do prejuízo causado pela disputa eleitoral brasileira aos investimentos na Bolsa, é o contexto internacional o principal responsável pela queda generalizada do mercado de ações e do fortalecimento do dólar.

Nos Estados Unidos, o S&P 500 também terminou o trimestre com um tombo perto dos 18% e, assim como o Ibovespa, o principal índice da Bolsa de Nova York teve o seu pior resultado desde a queda de 20% no início da pandemia.

Para enfrentar a maior inflação em quatro décadas, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) vem acelerando a escalada dos juros no país, ampliando temores de que esse aperto ao crédito poderá provocar recessão no país, prejudicando toda a economia mundial.

Antônio Sanches, analista da Rico Investimentos, afirmou que o mercado também operou atento nesta quinta à leitura final do resultado do PIB do primeiro trimestre dos Estados Unidos, cujo pequeno movimento para baixo, em relação à leitura anterior, já suscita mais temores sobre uma recessão adiante.

No Brasil, segundo Sanches, a tentativa de mudança constitucional para elevar despesas do governo em quase R$ 40 bilhões neste ano, todas fora do teto de gastos, concentra as atenções.

"Em resumo, mais um dia de volatilidade marcado pela aversão ao risco internacional, e por um cenário doméstico marcado por ganhos de curto prazo com maiores estímulos à economia, de um lado, e aumento do risco fiscal, do outro", comentou o analista.


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