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BC mantém Selic em 15% e não indica quando poderá cortar os juros

Por Reuters

10/12/2025 18h36 — em
Economia



Por Bernardo Caram

BRASÍLIA, 10 Dez (Reuters) - O Banco Central decidiu nesta quarta-feira manter a taxa Selic em 15% ao ano, como esperado, e não sinalizou quando poderá iniciar um ciclo de cortes nos juros, reforçando que a manutenção desse nível por período bastante prolongado é a estratégia adequada para levar a inflação à meta.

O comunicado da decisão, tomada de forma unânime pela diretoria da autarquia, manteve quase a integralidade da mensagem apresentada em novembro, com poucas alterações, que incluíram projeções melhores para a inflação à frente.

"O Comitê avalia que a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta", apontou o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC no comunicado, adotando a palavra "adequada" no lugar de "suficiente", usada em novembro.

"O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que, como usual, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado", acrescentou, pregando cautela na política monetária diante da elevada incerteza.

A decisão desta quarta veio em linha com a expectativa de mercado captada em pesquisa da Reuters, na qual todos os 41 economistas entrevistados projetavam que o BC manteria a Selic em 15% neste mês.

O foco dos analistas, no entanto, estava em possíveis sinalizações da autarquia sobre quando poderá cortar a taxa, em meio a sinais crescentes de esfriamento gradual da economia e de um movimento de melhora das expectativas para os preços à frente, com a inflação corrente retornando nesta quarta-feira para dentro do intervalo de tolerância da meta.

Pablo Spyer, conselheiro da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord), notou que o comunicado não apresentou qualquer indicação sobre flexibilização da política monetária neste momento.

“O Copom não abriu espaço para cortes imediatos e mantém postura de cautela diante da incerteza externa e das expectativas de inflação ainda acima da meta”, disse.

O economista do ASA Leonardo Costa avaliou que o comunicado tem tom neutro para levemente duro, com potencial de esvaziar parte da aposta do mercado de corte já na reunião do Copom de janeiro.

Já a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitoria, disse que o BC não abriu espaço para discussão do início da flexibilização monetária, o que deve deixar o mercado dividido para a próxima reunião, mas ponderou estar mantendo previsão de corte em janeiro, “condicionada a nova evolução positiva do cenário”.

O BC melhorou nesta quarta sua projeção de inflação para este ano em relação a novembro, de 4,6% para 4,4%, considerando o cenário de referência, que segue projeções de mercado para os juros.

Para o fechamento de 2026, a projeção caiu de 3,6% para 3,5%. Em relação ao segundo trimestre de 2027, atual horizonte relevante da política monetária, a expectativa ficou em 3,2%, contra previsão anterior de 3,3%.

Para fazer as projeções do cenário de referência divulgadas nesta quarta, o Copom considerou uma taxa de câmbio que parte de R$5,35, contra R$5,40 usados na reunião de novembro.

RESILIÊNCIA

Para o BC, indicadores de atividade seguem apresentando moderação, “como observado na última divulgação do PIB” --que desacelerou a 0,1% no terceiro trimestre.

No comunicado, a autarquia deixou de dizer que o mercado de trabalho “ainda mostra dinamismo”, passando a afirmar apenas que apresenta “resiliência”.

Em relação à inflação corrente, a autarquia disse que dados seguiram apresentando algum arrefecimento, mas mantiveram-se acima da meta. O BC ainda deixou inalterado seu balanço de riscos para os preços à frente, reiterando que as chances de alta e de baixa seguem mais elevadas que o usual.

O mercado financeiro tem melhorado as projeções para os preços, mas com maior resistência em períodos mais longos, sempre em níveis ainda fora do centro da meta de 3%, alvo que o BC tem repetido que trabalha firmemente para alcançar.

A previsão para o IPCA de 2025 no boletim Focus caiu de 4,55% antes do encontro do Copom em novembro para 4,40% nesta semana. Para 2026, as expectativas baixaram de 4,20% para 4,16%. O dado de 2027, no entanto, foi mantido em 3,80%.

O centro da meta contínua para a inflação é de 3% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

A decisão desta quarta-feira representa a quarta manutenção consecutiva da Selic em 15% ao ano, patamar alcançado após sete elevações feitas até julho deste ano e que levaram a taxa ao patamar mais alto em quase duas décadas.

No cenário externo, o BC disse que o ambiente segue incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, o que demanda cautela de países emergentes.

Mais cedo nesta quarta, o Federal Reserve cortou a taxa básica de juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 3,50% a 3,75%, em votação dividida, e sinalizou que provavelmente fará uma pausa em outras reduções nos custos de empréstimos, prevendo mais um corte de 0,25 ponto em 2026 e outro em 2027.

(Por Bernardo Caram, edição de Isabel Versiani)


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