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Ações de saúde e do agronegócio prometem resiliência ante volatilidade política da Bolsa em 2022

Por Folha de São Paulo

16/01/2022 13h03 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Diante de um ano que se desenha repleto de incertezas, seja no campo político em razão das eleições, seja em relação ao desempenho da atividade econômica, um dos raros consensos entre os investidores é o de que a Bolsa de Valores terá dias de intensa volatilidade nos próximos 12 meses.

Nesse ambiente desafiador para o mercado acionário, que conta ainda com a concorrência dos juros de volta aos dois dígitos, alguns setores e papéis em particular devem conseguir apresentar um desempenho mais resiliente em comparação com a média dos pares refletida pelo índice Ibovespa.

Na avaliação de gestores de fundos especializados em renda variável, exportadoras de commodities agrícolas, mais vinculadas à dinâmica da economia global, assim como negócios na área de saúde, estão entre aqueles com potencial para entregar retornos atraentes, a despeito de toda a volatilidade.

Segundo Luis Felipe Amaral, fundador da gestora Equitas, ações que se encontram em níveis descontados ante a queda generalizada da Bolsa durante os últimos meses, e que guardam menor relação com o resultado do PIB (Produto Interno Bruto), estão entre as principais candidatas a se destacar em 2022.

"Algumas empresas novas na Bolsa e ainda não tão conhecidas caíram brutalmente. Só que, entre elas, há negócios muito sólidos por trás, que não estão tão vinculados ao ciclo da economia brasileira", afirma Amaral.

Ele cita como exemplo na carteira dos fundos da Equitas os papéis da 3tentos, empresa que fez a abertura de capital na B3 em junho de 2021 e que atua no ramo de prestação de serviços ao setor do agronegócio. Desde a estreia, os papéis acumulam queda de aproximadamente 30%.

"O agronegócio está menos relacionado ao ciclo político aqui no Brasil, ao mesmo tempo que tem uma vantagem competitiva em escala global e até se beneficia de uma depreciação do câmbio, porque é um setor exportador", diz o gestor da Equitas.

Caio Lewkowicz, sócio e gestor da Tarpon, também vê no agronegócio uma das alternativas mais resilientes da Bolsa para atravessar um ano que promete fortes emoções aos investidores.

"Apesar de estarmos em um momento difícil em termos econômicos para o Brasil, se olharmos para os últimos anos, foram períodos extremamente rentáveis para o setor do agronegócio."

Segundo Lewkowicz, a visão favorável para o segmento se reflete em uma exposição relevante, próxima de 30% da carteira do fundo sob sua gestão na Tarpon, em nomes como Brasil Agro, Kepler Weber e Vittia.

A Brasil Agro, afirma o gestor, é uma empresa especializada em comprar e investir em grandes terrenos de modo a tornar a terra com alta capacidade produtiva para então revendê-las, enquanto a Kepler Weber é uma das líderes no ramo de armazenagem de grãos.

Já a Vittia, que fez seu IPO (oferta inicial de ações) em setembro de 2021, comercializa fertilizantes biodefensivos que têm um impacto menor no ambiente em comparação aos produtos agrotóxicos tradicionais, diz Lewkowicz.

"São três empresas do agronegócio em atividades complementares entre si e mais dependentes da economia global."

O setor de saúde, com investimentos nas redes hospitalares Hapvida e Intermédica e na farmacêutica Hypera Pharma, também é citado por Lewkowicz como uma estratégia que não deve estar tão suscetível ao noticiário político-econômico dos próximos meses.

"A fusão entre Hapvida e Intermédica cria a maior empresa de saúde do Brasil, que vai buscar tanto clientes do SUS que querem um plano privado quanto aqueles que já têm um plano, mas desejam opções mais econômicas", afirma o gestor da Tarpon.

Ele acrescenta que, no caso da Hypera, o investimento se sustenta na tendência de envelhecimento da população brasileira. "Independentemente de o PIB subir ou cair, as pessoas vão continuar consumindo medicamentos."

Também confiante na evolução dos negócios de saúde, Amaral, da Equitas, cita as ações da Rede Mater Dei e da fabricante de medicamentos Viveo, que fizeram o IPO em abril e agosto de 2021, respectivamente, entre os investimentos em portfólio que devem conseguir atravessar com relativa tranquilidade o cenário de alta volatilidade no mercado local.

"O setor de saúde depende menos da atividade econômica e muito mais da evolução esperada para a demografia da população a longo prazo. São operações que acredito que serão muito resilientes, mesmo em um ano de ruído político", afirma o gestor da Equitas.

Já Werner Roger, diretor de investimentos da Trigono Capital, aponta Ferbasa, São Martinho e Tupy entre os papéis em carteira que ele acredita que devem ter uma performance praticamente alheia à volatilidade trazida pela disputa política.

Werner explica que Ferbasa e Tupy são empresas que atuam nos setores de mineração e metalurgia que se encontram em momentos bastante favoráveis para suas operações.

Isso porque a redução da produção chinesa de matérias-primas metálicas em meio aos planos de descarbonização da economia do gigante asiático, somada à aprovação de planos de trilhões de dólares destinados à infraestrutura nos EUA, forma uma combinação ideal para a expansão de faturamento dessas companhias, diz o gestor.

No caso da produtora de açúcar e etanol São Martinho, Roger assinala que a demanda crescente por veículos híbridos movidos por novas fontes de energia fará a empresa ter lugar de destaque no panorama global ao longo das próximas décadas.

"São três empresas cuja receita é altamente dolarizada, que vão se beneficiar muito se o dólar se valorizar em relação ao real", afirma Roger. Ele prevê que o processo de aperto monetário a ser conduzido pelo Federal Reserve (banco central dos EUA) deva provocar um fortalecimento da divisa norte-americana em escala global.

De toda forma, se tivermos uma apreciação do real, isso irá significar que as coisas por aqui estarão caminhando muito bem, o que também é positivo para o crescimento dos negócios, diz o diretor da Trigono.

Sócio fundador e diretor de investimentos da Meraki Capital, Roberto Reis afirma que, diante do atual nível de desconto da Bolsa, visto por ele como excessivo, mesmo papéis de caráter mais cíclico têm bom potencial de ganhos à frente.

"Acho que tem um pessimismo muito grande embutido nos preços que não é justificável", afirma Reis.

Nesse sentido, ele cita posições montadas recentemente em ações das incorporadoras Cyrela e MRV, inseridas em um setor que guarda alta relação com o patamar em que se encontra a taxa de juros.

E, apesar de novos aumentos previstos para a taxa Selic, Reis afirma que os prêmios embutidos nos contratos de juros futuros de longo prazo, que são os que mais influenciam nos contratos de financiamento imobiliário, já se encontram em patamares bastante esticados, com espaço para alguma descompressão.

O gestor da Meraki Capital conta que, para investir nas construtoras, reduziu a exposição aos segmentos de vestuário e comércio eletrônico. O avanço do digital, contudo, é uma tese que deverá seguir no radar ainda por um bom tempo, acrescenta Reis, que carrega posições em Banco Pan e Banco Inter.

"Acredito que os bancos digitais serão os grandes vencedores do setor a longo prazo. Mas, diante dos preços atuais, mesmo os grandes bancos parecem em níveis atraentes", afirma o diretor de investimentos.

Ante o cenário eleitoral, Reis diz também que estatais não têm tido espaço dentro do portfólio dos fundos neste momento. A visão favorável para a continuidade da recuperação do preço do petróleo, diz, se materializa na carteira por meio de uma posição na ExxonMobil. Os papéis da petroleira americana estão disponíveis na Bolsa brasileira via BDRs (Brazilian Depositary Receipts), certificados que representam uma fração das ações negociadas originalmente em outros países.

"Se o petróleo continuar subindo e alcançar patamares próximos ou até acima de US$ 100 (R$ 563), como estamos prevendo, é difícil imaginar a Petrobras reajustando os preços na mesma proporção. Ou seja, a empresa não vai conseguir capitalizar esse movimento, ainda mais sendo um ano eleitoral", diz Reis.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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