Nazista mais procurado do mundo foi preso e condenado a morte
A prisão do homem que organizava as rotas dos trens para levar milhares de pessoas para os campos de extermínio em Auschwitz, Treblinka, Birkenau, na Alemanha de Hitler, foi um acontecimento cinematográfico e cujo enredo perfeito, foi elaborado milimetricamente por agentes do Mossad, o serviço secreto israelense.
Adolf Eichmann era quem carimbava as passagens de homens e mulheres de origem judaica forçados a ir para os campos de concentração, fazer trabalhos forçados e lá morrer.
Mas com a derrocada do nazismo, ele conseguiu escapar até chegar em Buenos Aires, capital da Argentina, conhecida por refugiar nazistas. Lá adotou o nome de Ricardo Klement, dizendo-se judeu perseguido e ficou tranquilamente escondido por 15 anos.
Em nome de uma certa ajuda humanitária, oferecida pela Igreja Católica, e com documentos forjados pela Cruz Vermelha, Eichmann, que se tornou um dos criminosos nazistas mais procurados em todo o mundo, foi acolhido por uma comunidade franciscana até o momento de partir.
ARMADILHA
Mas na noite de 11 de maio de 1960, a liberdade dele seria encerrada definitivamente. Ao descer do ônibus que o trazia do trabalho, Ricardo Klement caiu nas mãos dos agentes do Mossad, liderada por Zvi Aharoni, que o prenderia e o levaria secretamente.
Ao dobrar a esquina de casa, viu uma limusine preta parada, com o capô levantado, com um homem que checava o motor. Quando passou por ele, foi interrompido com o pedido: "Momentito!", disse o desconhecido, em um arremedo de espanhol.
Klement nem teve tempo de reagir. Os agentes o levaram ao chão e depois o colocaram no banco de trás da limusine. No carro, ouviu em alemão o conselho do motorista: "Não se mova e ninguém vai machucá-lo. Mas se resistir, atiramos".
Em silêncio, respondeu, também em alemão: “Eu já aceitei o meu destino”.
O Mossad chegou até a ele quando Lothar Hermann, um descendente de judeus cujos pais foram mortos pelos nazistas e morava em Buenos Aires, informou que sua filha ficara amiga de um rapaz chamado Klaus Eichmann. Dele teria ouvido a fala de que era uma pena Hitler ter sido impedido de alcançar seu objetivo
Mesmo com a informação, o serviço secreto duvidou, mas novos dados indicaram ser mesmo Eichmann vivendo em Buenos Aires, com a mulher e filhos que teriam ido ao seu encontro. Os três rapazes continuaram usando o sobrenome do pai.
Após meses de investigações, os agentes secretos israelenses conseguiram chegar até o local, uma área distanciada, meio abandonada, sem água encanada ou energia elétrica, onde Eichmann se escondia. Depois de confirmar que era mesmo o criminoso nazista, eles planejaram a prisão e o voo que o levaria a Israel.
Tudo foi programado para que o intervalo entre o sequestro e a fuga fosse o menor possível, para evitar que a polícia fosse acionada. O transporte para Israel seria no voo de um avião comercial da El Al que traria o ministro do Exterior israelense Abba Eban para a comemoração dos 150 anos de independência da Argentina.
No dia 11 de maio, na hora combinada, 19h25, Aharoni estacionou a limusine na rua Garibaldi. Os demais agentes saíram do carro e o segundo se escondeu atrás do capô. E um ficou deitado no banco de trás.
O ônibus atrasou, mas cinco minutos depois das 20h, parou no ponto e dele saltou Eichmann.
Sem armas, Eichmann foi dominado pelos agentes e levado para interrogatório.
Em 20 de maio, vestido com uma roupa semelhante à da tripulação da El Al (camisa branca e gravata preta), Eichmann foi sedado com uma droga que o impediria de falar, mas poderia se locomover com ajuda e partiu.
O anúncio da prisão dele foi dado pelo primeiro-ministro israelense David Ben Gurion no dia 23 de maio de 1960, sob protestos da Argentina, que denunciou a quebra de sua soberania e exigiu que Eichmann fosse levado de volta.
Eichmann foi julgado pela Corte Distrital de Jerusalém em 11 de abril de 1961, acusado de crimes contra o povo judeu e contra a humanidade. De uma cabine de vidro à prova de bala, declarou-se inocente das acusações. Disse nunca ter matado nenhum ser humano.
O julgamento dele produziu o best seller “Eichmann em Jerusalém - Um Relato sobre a Banalidade do Mal”, da filósofa judia alemã Hannah Arendt.
No dia 15 de dezembro, a sentença final foi a morte por enforcamento, realizada na noite de 31 de maio de 1962. Eichmann pediu uma taça de vinho e recusou o capuz oferecido pelo carrasco.
Suas últimas palavras, poucos minutos antes da meia-noite, já de pé no cadafalso foram: “Longa vida à Alemanha. Longa vida à Áustria. Longa vida à Argentina. Esses são os três países com os quais tive laços mais próximos. Eu não os esquecerei. Cumprimento minha mulher, filhos e amigos. Foi exigido de mim obedecer às leis da guerra e da minha bandeira. Eu estou preparado”.
O corpo dele foi cremado e as cinzas, espalhadas no mar Mediterrâneo, em águas internacionais.
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