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Às vésperas das eleições, São Paulo busca soluções para lista de problemas

Por Agência O Globo

25/09/2016 3h52 — em
Brasil



SÃO PAULO — Uma metrópole de 12 milhões de habitantes e um número incontável de problemas. A décima cidade que mais gera riqueza no mundo, responsável por 12% do PIB do Brasil, também é o lugar onde se perde 3 horas por dia no trânsito, em que quase 100 mil crianças estão sem creche e ao menos 230 mil famílias não têm onde morar. Às vésperas das eleições municipais, São Paulo busca soluções para uma extensa e antiga lista de imperfeições.

Para complicar um pouco mais a tarefa dos administradores públicos, cada pedaço dos 1,5 mil km² de área do município tem sua própria realidade. Se os 96 distritos da capital paulista fossem países, a diferença entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada um deles seria do tamanho do abismo que existe entre a Noruega, o maior IDH do mundo, e o Suriname, o 103º colocado em uma lista de 188.

Pesquisa recente feita pelo Ibope a pedido da Rede Nossa São Paulo, um coletivo de organizações sociais que busca articular propostas da sociedade civil com o poder público, identificou alguns dos temas que mais interferem na qualidade de vida, segundo a percepção dos próprios paulistanos: Saúde, Educação, Transporte, Habitação e Segurança — preocupações recorrentes em outros centros urbanos do Brasil.

Na rede municipal de Saúde pública, o tempo médio entre a marcação e a realização de uma consulta é de 81,9 dias, de acordo com os Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município da Rede Nossa São Paulo. Na rede privada, a espera média é de 15,2 dias. Para um exame, a espera é de 98,1 dias na rede municipal e 17,7 dias em uma clínica particular. O paciente de um hospital municipal também demora cinco vezes mais tempo do que quem pode pagar por procedimentos mais complexos, como cirurgias. A diferença é de 186,3 dias nos hospitais da prefeitura para 37,5 dias nos do plano de saúde.

A aposentada Dora Mendes, 59 anos, sabe bem o problema causado por esses números. Moradora do Jardim Felicidade, no Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, ela luta há dez anos contra um câncer e nem sempre encontra o remédio que precisa tomar para combater a osteoporose, que fez com que os dedos das suas mãos ficassem atrofiados. No último dia 29 de agosto, ela estava na fila do posto de saúde para fazer um exame de sangue e esperava que o resultado ficasse pronto o quanto antes para fazer uma operação.

— Se for demorar três meses para passar no médico, um mês para pegar resultado do exame, quando vou fazer cirurgia? — pergunta Dora. — Tem tanta gente que morre antes de passar no médico, de tanto esperar...

Na pesquisa do Ibope, 62% dos entrevistados disseram considerar Saúde muito importante para sua qualidade de vida. Na sequência, aparece Educação, lembrado como muito importante por 58%. A falta de vagas em creches, especialmente em bairros mais distantes, tem sido muito lembrada nas campanhas eleitorais. Os dados mais recentes da prefeitura, que criou um cadastro online com a fila para a creche, mostram que há 97.444 crianças aguardando uma vaga. A mãe de uma criança de 2 a 3 anos espera, em média, 227 dias até ser atendida. Na região onde fica a maior favela de São Paulo, Paraisópolis, na Zona Sul, a demora é de 527 dias.

A diarista Carla Neves Santos, de 20 anos, completou, em setembro, dois anos e oito meses de espera por uma vaga para sua filha Ana Clara, de 3. Em março, quando a fila foi atualizada no site da prefeitura, a menina ocupava a posição 89 e teria que aguardar outras 88 crianças conseguirem suas vagas. Sem ter com quem deixar o bebê, Carla acaba abrindo mão de trabalhar e estudar.

— Como não tem creche, tenho que ficar em casa, sem trabalhar, ou então sair para trabalhar e pagar uma moça que olha minha filha. Mas aí quase não sobra dinheiro para comprar fralda, comida — diz a mãe.

Na parte de São Paulo que se assemelha mais ao Suriname que à Noruega, estão as cerca de 230 mil famílias que compõem o déficit habitacional, seja porque vivem em áreas de risco ou porque simplesmente não conseguiram mais pagar o aluguel, como Corita Maria Correa, de 63 anos. Moradora do Centro e desempregada, ela não teve dinheiro para pagar R$ 1,3 mil pelo pequeno apartamento onde vivia e se juntou a 171 famílias que ocupam o Hotel Cambridge. O prédio, que estava abandonado, foi reformado pelos sem-teto e ganhou oficinas, cursos para crianças e uma padaria comunitária.

— Não tinha mais como pagar aluguel e também não tinha condições de sair daqui e ir para uma comunidade longe do Centro. Minha vida toda está aqui, é aqui que tem emprego, meu médico, minha família — afirma Corita.

Outra pesquisa do Ibope feita a pedido da Nossa São Paulo revela o tamanho de uma das características mais conhecidas da metrópole: o trânsito. O paulistano perde por dia, em média, 2h58m em deslocamentos pela cidade. Quem só usa transporte público, fica 3h11m em ônibus, trens ou metrô. É esse o tempo que o publicitário Felipe Marques Batista, de 25 anos, leva para ir da sua casa em Itaquera, na Zona Leste, até o trabalho na Marginal Pinheiros, Zona Sul.

— Tenho que cruzar a cidade todo dia. De ônibus, só a ida dá 1h30m. De carro, leva uma hora se eu fizer um caminho mais longo, que não tem tanto trânsito. Não tem muito o que fazer.

A falta de segurança é outro problema lembrado pelos paulistanos em pesquisa de opinião. Embora seja responsabilidade do estado, acaba caindo na conta do prefeito. Por dia, acontecem 421 roubos e 224 roubos e furtos de veículos. Recentemente, com políticas voltadas ao incentivo ao uso da bicicleta, as bikes também passaram a ser roubadas. O empresário, de 34 anos, teve a bicicleta, seu principal meio de transporte, furtada em frente à sua casa na Vila Madalena, Zona Oeste.

— É uma coisa que infelizmente acontece. Mas é como quando levam seu celular. Você não para de usar. Só vai lá e compra outro.

Ao Ibope, 68% dos paulistanos disseram que mudariam de cidade se pudessem. Mas o fato é que o número de habitantes da metrópole ainda está crescendo. Mesmo problemática, São Paulo não é facilmente abandonada.


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