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Quero ajudar meu povo, diz índia aprovada em medicina em duas federais

Por Portal Do Holanda

30/01/2015 6h14 — em
Brasil



Moradora da aldeia Te'yi Kuê, nos arredores de Caarapó (a 274 quilômetros de Campo Grande), Dara Ramires Lemes, 19, tem motivos de sobra para comemorar: a guarani- kaiowá foi aprovada em medicina em duas universidades públicas, a UFScar (Universidade Federal de São Carlos) e a UFSM (Universidade Federal de Santa Maria).

Nas duas instituições, Dara ficou em primeiro lugar entre os candidatos que disputavam uma vaga pelo sistema de cotas. Decidiu pela universidade gaúcha, onde eram 121 candidatos para apenas duas vagas.

Desde os sete anos, ela sonha em ser médica para cuidar de seu povo. "Esse é um dos meus objetivos, ajudar minha comunidade, mas também pretendo trabalhar em outros lugares. Montar um consultório, quem sabe", diz a estudante, que vai morar no alojamento da universidade. 

Filha de uma professora e de um comerciante, a indígena foi alfabetizada aos 4 anos e estudou o ensino fundamental e o médio em escolas públicas na aldeia onde vivem cerca de 5.000 índios. A região, assim como outras reservas indígenas do sul de MS, enfrenta sérios problemas, como altas taxas de homicídio, suicídio e disputas de terra entre índios e fazendeiros.

Rotina de estudos

Aos 17 anos, Dara tentou ingressar na faculdade de medicina, mas não foi aprovada. Decidiu então entrar em um cursinho pré-vestibular particular.

"Eu queria estudar integralmente, mas o custo era alto demais para minha família. Com isso, resolvi fazer só o [cursinho] noturno. Tive que me esforçar em dobro. Pelo cursinho noturno meu pai pagava R$ 290 por mês, fora o ônibus [deslocamento de 50 km de distância da aldeia]. Embora fosse caríssimo, garanti ao meu pai que, se ele pagasse, eu iria passar. Ele e minha mãe me apoiaram. E graças a Deus deu tudo certo", disse Dara, que tem mais três irmãos.

"Estudava até 10 horas por dia intercaladamente. Meu pai tem uma venda na aldeia e eu cuidava para ele. Quando não vinha ninguém, eu estudava. Fazia muitos exercícios por dia, simulados e via bastante vídeo-aula no Youtube. Não perdia tempo. Se sobravam 10 minutos, para mim era lucro. Quando não entendia alguma matéria, eu estudava de madrugada depois do cursinho", diz a estudante.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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