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Presos lincham sem piedade homem acusado de matar sua esposa em ritual

Por Portal Do Holanda

13/03/2016 15h39 — em
Brasil



O engenheiro agrônomo Antônio David dos Santos Filho, de 40 anos, foi morto pelos 25 presos que estavam com ele na cela 4 do Centro Regional de Triagem, no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Ele foi linchado após ter sido torturado pelos presos, que o espancaram até a morte. Era uma cela comum e os presos teriam sido comunicados por meio de bilhetes que quem havia acabado de chegar era famoso.

Suspeito de matar e ocultar o corpo da auxiliar de enfermagem Deise Faria Ferreira Freitas em julho do ano passado, após um ritual do Santo Daime em uma chácara de Goiânia, Antônio David foi encontrado pela direção do Centro de Triagem em decúbito fetal, amarrado pelos pés e mãos e amordaçado com tiras de corda “tipo tereza”. Apresentava múltiplas lesões pelo corpo, além de perfurações nas costas e sinal de enforcamento.

Ele estava preso temporariamente há 37 dias na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), onde o inquérito que apurava o desaparecimento da técnica em enfermagem foi concluído na terça-feira, 8, e encaminhado ao Poder Judiciário.

Nele, o delegado Thiago Damasceno, titular da Deic, indiciou Antônio David por homicídio e ocultação do cadáver de Deise e o líder do Instituto Céu do Patriarca e da Matriarca, o policial militar reformado Cláudio Pereira Leite, por ocultação de cadáver. O líder xamânico está preso no presídio militar e soube através do advogado dele, Cláudio Albuquerque, da morte de Antônio David.

“Ele está chocado, triste e se sentindo ameaçado também; contudo, eu o tranquilizei e já expliquei que ele agora é o único alvo da polícia no caso”, contou o advogado. Segundo Albuquerque, o militar reformado só não corre risco de morte porque é “guardado” por militares. “Se ele estivesse no sistema prisional já estaria morto.”

Ação contra o Estado

O advogado de Antônio David, Rogério Rodrigues de Paula (leia mais na entrevista abaixo) afirmou ontem, enquanto aguardava a liberação do corpo do engenheiro agrônomo no Instituto Médico Legal, ao lado da filha da vítima, que vai acionar o Estado em uma ação civil indenizatória a favor da família porque o cliente não deveria ter sido transferido da Deic por determinação do juiz Eduardo Pio Mascarenhas, da 1ª Vara dos Crimes Dolosos de Goiânia.

No mandado que prorroga a prisão temporária de Antônio David, o juiz determina que “recolha-o à Deic a disposição deste juízo”. No documento há a determinação para que, “decorrido o prazo da detenção temporária, deverão ser colocados (o documento é referente também a Cláudio Pereira Leite) em liberdade, mediante termo, salvo prorrogação ou conversão em preventiva, ou outro motivo ensejador da manutenção carcerária”.

Ao POPULAR, o delegado titular da Deic, Thiago Damasceno contou que ao concluir o inquérito e remetê-lo à Justiça, soube que o preso seria levado para a Agência Prisional. “Assim que surgiu vaga ele foi transferido”, disse.

O delegado lamentou a morte do engenheiro agrônomo, mas que o curso das investigações não foi prejudicado com a morte. Nos 37 dias em que ficou na delegacia, Antônio David estava em uma cela com apenas outro preso. No inquérito remetido ao Judiciário, o delegado pediu a decretação da prisão preventiva dos dois suspeitos.

Corregedoria

“Não solicitei que ele ficasse em cela especial na Deic porque nem precisou”, contou o advogado Rogério de Paula. Ele disse ainda que a transferência do cliente para a Central de Triagem não foi comunicada nem a ele nem à família do preso.

Por causa da transferência que ele classifica como irregular, pretende denunciar o caso à Corregedoria da Polícia Civil. “Ele não podia ter sido transferido. Se foi é porque alguém autorizou. Essa pessoa tem de ser responsabilizada por isso”, disse.

O advogado disse que presos que ficam famosos por crimes cometidos, mesmo quando ainda são suspeitos, ficam visados dentro do sistema prisional. “Eles chamam de preso mídia na cadeia. Esse tipo de preso geralmente é alvo fácil.”

Rogério de Paula quer saber ainda o motivo do cliente, que tinha curso superior, ter sido colocado em uma cela comum na Central de Triagem. “É direito do preso temporário, portador de diploma de curso superior, ficar detido em cela especial. Isso não foi observado no sistema prisional e foi determinante para a morte do meu cliente”.

Uma sindicância interna foi instaurada pela Superintendência Executiva de Administração Penitenciária (Seap) sobre as circunstâncias da morte de Antônio David, “entre elas, a denúncia de que o preso teria direito a cela especial por ser portador de diploma de nível superior”. Em nota enviada à imprensa, a Seap ainda informou que dois presos teriam assumido a autoria do crime.

“Isso é comum quando vários presos matam alguém na cadeia. Presos que possuem dívida alta ou que têm muitos anos de condenação tomam para si a autoria dos crimes, mas já sabemos que, no caso do Antônio David, os 25 presos participaram”, contou um agente da Polícia Civil que faz parte da investigação.

Código da cadeia

Um agente penitenciário ouvido confirmou que a população carcerária não gosta de presos que atraiam olhares da imprensa para dentro do presídio. No caso de Antônio David, o caso era mais que isso. Teria um código de ética dentro da cadeia em que autores de crimes contra mulheres e crianças devem ser punidos.

Ao entrar na cela, Antônio David já estaria jurado de morte. Ele foi rendido, amarrado e torturado. Os presos chegaram a perguntar onde estava o corpo da “enfermeira”. Como não teria dito nada, Antônio David foi amordaçado e morto por espancamento. Detalhes da tortura e do linchamento não foram confirmados pela Seap ou pela Polícia Civil.

A polícia obteve a informação de que os presos foram avisados por meio de bilhetes na cela sobre quem era o novo preso, mas nenhum bilhete foi apreendido.

O delegado Henrique Berocan, do Grupo de Investigações de Homicídios (GIH) de Aparecida de Goiânia, explicou que policiais desconfiam da existência do bilhete, mas não conseguiram confirmar.

Ele disse que passou a manhã de ontem finalizando a ocorrência do crime e que não esteve na Central de Triagem, onde ocorreu o linchamento. Segundo Berocan, por ter acontecido durante a noite de quarta-feira - o horário correto do linchamento não foi comunicado à imprensa, mas teria sido por volta de 22 horas -, a delegada Edilaine Moreira dos Santos, do plantão do GIH, foi quem acompanhou a perícia.

O delegado confirmou que dois presos teriam assumido o crime. De acordo com Berocan, entretanto, a suspeita é de que um detento - que não quis se identificar - começou a violência e a maioria o seguiu. “Não sei ainda quantos participaram, mas se conseguir provar que foram todos, vou indiciar todos”, afirmou.

(Via O Popular)


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