Policial civil e PM são presos em operação que investiga morte de delator do PCC
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma operação da Polícia Federal realizada nesta terça-feira (26) contra uma suposta organização criminosa de lavagem de dinheiro teve como um dos presos um policial civil de São Paulo citado pelo empresário Vinicius Gritzbach em sua delação.
Gritzbach, que também delatou integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) foi morto em um ataque no aeroporto de Guarulhos no início do mês.
O nome do policial detido nesta terça não foi divulgado. Um policial militar de São Paulo também está entre os presos na ação. Não foram divulgados mais detalhes das suspeitas contra os dois agentes.
A operação da PF investiga a prática de crimes contra o sistema financeiro, evasão de divisas e lavagem de dinheiro que teriam movimentado R$ 6 bilhões nos últimos cinco anos, sendo R$ 800 milhões em 2024.
O esquema contaria com a participação de dezenas de pessoas, envolvendo estrangeiros e brasileiros nas mais variadas funções e atividades como policial militar e civil, gerentes de bancos e contadores.
Em nota, a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) informou que o policial civil citado está afastado de suas funções desde dezembro de 2022.
Quanto ao policial militar, ele havia integrado a Casa Militar em abril de 2012 e permaneceu na unidade até setembro deste ano, quando foi transferido para o 13º Batalhão de Policia Militar Metropolitano, na região central da capital paulista.
Neste período, a Casa Militar não foi notificada sobre nenhuma investigação contra o policial, disse o governo estadual.
As corregedorias das polícias Civil e Militar acompanham os desdobramentos da operação.
Duzentos policiais federais cumpriram 16 mandados de prisão preventiva e 41 mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça Federal em endereços residenciais e comerciais nos estados de São Paulo, Distrito Federal, Espírito Santo Paraná, Ceará, Santa Catarina e Bahia, segundo a Polícia Federal.
A investigação teve início em 2022 e tem como alvo um complexo sistema bancário paralelo e ilegal que teria movimentado bilhões de reais dentro do Brasil e também para o exterior. O dinheiro teria origem ou destino em uma série de outros países: Estados Unidos, Canadá, Panamá, Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Peru, Holanda, Reino Unido, Itália, Turquia, Emirados Árabes Unidos e, especialmente, a China (incluindo Hong Kong), para onde se destinava a maior parte dos recursos.
Para funcionamento do sistema criminoso, o líder buscava a abertura de empresas e contas bancárias com capacidade de movimentação de R$ 2 milhões por dia. Segundo a PF, o objetivo do sistema era permitir um fluxo constante de dinheiro para o território chinês. Mas a organização também atendia outras pessoas interessadas em ocultar capitais, lavar dinheiro ou enviar ou receber recursos do exterior.
De acordo com os agentes federais, há indícios de envolvimento de grupos criminosos voltados ao tráfico de drogas, tráfico de armas e contrabando.
Entre os meios utilizados pela organização criminosa estão instrumentos criminais clássicos, como uso de empresas de fachada e de laranjas, falsificação de documentos de importação e exportação e operações de câmbio fraudulentas.
A lavagem de dinheiro também contava com mecanismos mais recentes, como o uso de fintechse transposição de recursos para criptoativos.
Além das prisões e das buscas, a Justiça Federal determinou ainda o bloqueio de bens e valores em cifra superior R$ 10 bilhões, de mais de 214 pessoas jurídicas.
Em alguns endereços, após representação da Polícia Federal, foi autorizada a participação de servidores da Receita Federal nas buscas em parte dos endereços para fins de análise fiscal.
Os investigados, de acordo com suas condutas, vão responder, principalmente, pelos crimes organização criminosa, ocultação de capitais (lavagem de dinheiro) e evasão de divisas, cujas penas somadas passam de 35 anos de prisão, além de diversos outros já constatados durante a investigação.
A operação foi chamada de Tai-Pan, que significa chefe supremo, uma referência ao romance de 1966 escrito por James Clavell sobre comerciantes ocidentais que se mudaram para Hong Kong em 1842, após o fim da Primeira Guerra do Ópio.
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