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Os desafios da Educação para além do horário integral

Por Agência O Globo

30/09/2016 3h52 — em
Brasil



RIO — A proposta está nos programas de governo de oito dos dez candidatos a prefeito do Rio, e é repetida por muitos que tentam uma vaga no Legislativo: garantir educação em tempo integral para os alunos da rede pública municipal. Para educadores, a proposta é correta, mas há dúvidas quanto à viabilidade de implementá-la com a qualidade necessária, para que represente, de fato, um salto no desempenho da educação pública no Rio.

Bertha do Valle, professora da Faculdade de Educação da Uerj, avalia que anunciar a efetivação do ensino em tempo integral é bom, porque o Brasil está entre os países com menor carga horária escolar do mundo: apenas quatro horas diárias. Ela defende que sejam seis horas:

— Como ocorre em países até mais pobres que o Brasil.

O desafio, alerta a educadora, é garantir recursos necessários para deixar as crianças na escola pelo tempo considerado ideal:

— Precisa de estrutura física, precisa de profissionais.

Para o professor Marcelo Burgos, especialista em Educação do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, a pouca profundidade apresentada sobre o tema, no debate eleitoral, é preocupante.

— A grande tarefa do prefeito é cuidar da educação do ensino fundamental, e da Saúde. A Educação tem o maior orçamento, é a rubrica mais importante. No município do Rio, 100% das escolas públicas de ensino fundamental são da prefeitura. Isso tem uma dimensão social e humanitária imensa — avalia Burgos.

O professor Antonio Freitas é pró-reitor da Fundação Getúlio Vargas e membro do Conselho Nacional de Educação. Ele também acredita que a educação integral é essencial, desde que seja bem executada, com investimento na capacitação de professores que motivem os alunos:

— A proposta de educação integral é necessária, mas não é suficiente. O aproveitamento nas escolas da cidade é baixo, não chega a 40%, e temos uma evasão superior a 50%. Para implantar a escola integral, precisaríamos treinar professores, equipar bibliotecas, ter instalações agradáveis. Outra questão importante é o professor: quando ele é mal remunerado, precisa dar aulas em várias escolas e não consegue se especializar.

Outras questões também são apontadas pelos especialistas como capazes de produzir efeito muito positivo no desempenho da educação no Rio, se enfrentadas: analfabetismo, reprovação, evasão escolar e a distorção idade/série.

Ruben Klein é ex-presidente Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave) e consultor da Fundação Cesgranrio. Ele compartilha da opinião de Freitas: antes de quantidade, é preciso qualidade de tempo gasto na escola.

— Tirar as crianças da rua e pôr na escola é maravilhoso, mas aumentar o número de horas não resolve. É preciso dar reforço escolar, atividades esportivas e culturais. Temos que saber, ainda, como será a implementação desse ensino integral: se terá professores suficientes, como vai ser o projeto pedagógico — lista Klein.

Burgos completa:

— A escola começa o processo de exclusão no 2º e 3º ano, com a reprovação. No Rio, os índices de reprovação chegam a 30%. Não se consegue alfabetizar as crianças até os 8 anos. Há a reprovação, o desestímulo, uma parcela das crianças que vai se evadindo... E essas crianças se tornam ainda mais vulneráveis. Não conseguem se alfabetizar na idade certa.

Já a coordenadora-executiva da organização Rio Como Vamos, Thereza Lobo, lembra que há outros temas que “não estão na moda”, mas que têm enorme impacto.

— O índice de analfabetismo entre os jovens de 15 anos ou mais tem um percentual que parece pequeno aqui no Rio, 3%. Mas quando você vai para o número absoluto, são 150 mil pessoas nesta cidade. A Maré, sozinha, tem sete mil analfabetos nessa faixa etária. Um esforço concentrado daria conta disso — afirmou.

O esforço para atingir a universalização, com planejamento deficiente, levou à falta de outros profissionais importantes para assegurar o bom funcionamento da escola. O professor fica praticamente sozinho, não há um outro adulto, como autoridade, nos corredores. Para Bertha do Valle, é preciso repensar o projeto pedagógico:

— Falta integração de disciplinas, falta estrutura, faltam porteiros, inspetores de alunos, merendeiras, pessoal administrativo. ()


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