Justiça decreta a prisão de mais dois suspeitos da morte de Marielle Franco
RIO - Mais dois homens suspeitos de estarem no veículo de onde partiu o tiro que matou a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista dela, Anderson Gomes, há quatro meses, tiveram as prisões preventivas decretadas pelo 4º Tribunal do Júri do Rio. Os suspeitos foram identificados a partir do depoimento da testemunha chave do crime, que está sob proteção, mas que não revelou como obteve as informações. A mesma testemunha já tinha denunciado o ex-PM Alan de Morais Nogueira, preso na última terça-feira, também pela execução da parlamentar. Apesar disso, os mandados de prisão contra William e Renato não foram expedidos por causa dos homicídios da vereadora e de seu motorista, mas por um assassinato cometido por uma quadrilha de milicianos que está sendo investigada. Todos são acusados de integrarem o grupo paramiliar de Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, preso na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Há dois meses, O GLOBO revelou que uma testemunha, que havia trabalhado para Orlando de Curirica, tinha revelações sobre o assassinato de Marielle Franco, ocorrido em 14 de março deste ano. Temendo pela própria vida, ela procurou a Polícia Federal que a encaminhou para a Delegacia de Homicídios da capital.
William e Renato estão tendo a prisão pedida pela morte de Rafael Freitas Pacheco da Silva, o Leão, e também pela tentativa de homicídio da mulher que o acompanhava. Os dois, juntos com Guilherme Anderson Oliveira Christensen, o Gordão, atacaram as vítimas, no dia 10 de novembro de 2015, na Estrada da Boiúna, na Taquara. De acordo com a decisão do juiz Gustavo Gomes Kalil, que decretou a prisão preventiva dos três, as investigações da Delegacia de Homicídios da Capital (DH) comprovaram que o motivo do crime foi a disputa pelo controle da distribuição de sinal de TV a cabo na região. Na época, Orlando pretendia expandir seus negócios na Boiúna e ordenou a morte de Leão, também miliciano, que explorava o "gatonet". Rafael era amigo e sócio da testemunha chave do caso Marielle. A testemunha contou à polícia que, para não morrer por ser aliado de Leão, foi coagido por Orlando a trabalhar para ele como motorista.
Em sua sentença, o juiz decretou a prisão de Orlando, que já se encontra preso. O magistrado chamou a atenção para a periculosidade de Orlando e sua quadrilha: "Ressalte-se, ainda, o péssimo histórico dos réus: Orlando Oliveira, Guilherme Anderson e William da Silva ostentam em suas folhas de antecedentes criminais, respectivamente, oito, sete e seis anotações criminais, inclusive pela prática de delitos extremamente graves, tais como homicídio qualificado, roubo e porte ilegal de arma de fogo, merecendo destaque a existência de sentenças condenatórias com trânsito e julgado. Já o acusado Renato Nascimento possui duas anotações em sua FAC (Folha de Antecedentes Criminais) referentes ao delito de homicídio qualificado. Tudo a revelar, de forma nítida e concreta (!!!), que a prisão preventiva é a única cautelar necessária e suficiente para o resguardo da ordem pública, evitando-se a reiteração delitiva", observou Kalil.
De acordo com o processo, o ex-PM Rodrigo Severo Gonçalves, o Popeye, também teria participado do homicídio de Leão. Mas Severo, dois anos depois do crime, acabou sendo vítima de uma emboscada preparada pelo próprio chefe da milícia. Orlando teria desconfiado de que ele e o policial militar José Ricardo da Silva, na época lotado no 5º BPM (Praça da Harmonia), pretendiam traí-lo, para lhe tomar os negócios ilegais. Numa emboscada em seu sítio, em Guapimirim, na Baixada Fluminense, em 25 de fevereiro do ano passado, o chefe da milícia teria ordenado a morte dos dois. Os corpos de Severo e José Ricardo foram colocados dentro do carro de uma das vítimas que foi incendiado, em Brás de Pina, bairro da Zona Norte que fica a cerca de 62 quilômetros de Guapimirim. Os suspeitos do homicídio, além do mandante, são o ex-PM Alan Morais Nogueira e o ex-bombeiro Luís Cláudio Ferreira Barbosa. Ambos foram presos na última terça-feira, pela DH. A estratégia da polícia é pressionar os integrantes do bando para que confessem o crime de Marielle e Anderson.
Leão foi morto no mesmo bairro onde foi executado Carlos Alexandre Pereira Maria, o Alexandre Cabeça, assessor informal do vereador Marcelo Siciliano (PHS). Cabeça foi morto logo depois da morte de Marielle e é apontado como miliciano da Boiúna. A DH Capital investiga a possibilidade de ele ter sido morto por queima de arquivo. Segundo a polícia, Alexandre Cabeça também trabalhava para Orlando, que teria ordenado o crime de dentro da cadeia, como queima de arquivo.
Além do caso Marielle, a testemunha chave tem ajudado a elucidar todos os crimes do bando de Orlando. Em seu depoimento, ela também disse à polícia ter presenciado, em junho do ano passado, um encontro entre Orlando, então solto, com o vereador Marcello Siciliano (PHS), num restaurante, no Recreio. Na conversa relatada pela testemunha, o vereador teria falado alto: “Tem que ver a situação da Marielle. A mulher está me atrapalhando”. Depois, bateu forte com a mão na mesa e gritou: “Marielle, piranha do Freixo”. Depois, olhando para o ex-PM, disse: “Precisamos resolver isso logo”. Siciliano nega conhecer Orlando de Curirica e ter encontrado com ele no restaurante citado, e o advogado do acusado de ser miliciano, que se encontra preso, também afirma que ele não teve qualquer participação no assassinato da vereadora.
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