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Júri de Paulo Cupertino, acusado de matar ator de 'Chiquititas', é anulado; veja depoimentos

Por Folha de São Paulo

10/10/2024 19h45 — em
Brasil


Foto: Reprodução/SSP-SP e divulgação/Polícia Civil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O júri do comerciante Paulo Cupertino Matias, réu pelo homicídio do ator Rafael Miguel e dos pais dele em junho de 2019, foi cancelado na tarde desta quinta-feira (10), quase quatro horas após seu início. Não há data para novo julgamento.

A medida foi tomada após o réu destituir o seu advogado alegando quebra de confiança. Com isso, o conselho de sentença, formado por seis mulheres e um homem, foi dissolvido.

O julgamento começou às 15h30, um atraso de duas horas e meia do horário previsto. Foram ouvidas a ex-mulher de Cupertino e a filha, que namorava Rafael Miguel na época do crime. Esses depoimentos serão anulados.

Vanessa Tibcherani, ex-mulher do acusado, foi a primeira pessoa a ser ouvida. Ela perguntou ao juiz se poderia não falar o nome de Cupertino durante seu depoimento, o que foi atendido. Ela chamou o ex-marido de "réu".

Cupertino acompanhou o depoimento. Foi ao fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, vestido com uma camisa azul clara, calça jeans e sapato sem cadarço. Ele está com os cabelos longos, sem barba, e não usa algemas.

Durante resposta à Promotoria, Vanessa afirmou que foi agredida fisicamente durante a união entre eles, que durou 22 anos, mas sem que morassem juntos. Ela relatou ter sido ameaçada com o uso de arma de fogo por algumas vezes.

A ex-esposa de Cupertino o classificou como "mitomaníaco", por falar com tanta firmeza que não cometeu o crime mesmo com provas contra ele. "Nós não estamos aqui porque o réu é uma pessoa dócil", disse.

Ela também o chamou de misógino, ao afirmar que o trato do pai com a filha era frio, sem laços de amor. Segundo Vanessa, Cupertino podava a filha do convívio social com os amigos. "Minha filha nunca teve liberdade."

A mulher chorou ao falar do dia do crime e ao recordar as vítimas feridas no chão. Ela disse que Rafael era uma boa pessoa, assim como os pais dele. Vanessa aprovava o relacionamento entre a filha e o ator.

Cupertino ficou em silêncio. Ele se demonstrou inquieto, levando a mão ao rosto por diversos momentos.

'VOCÊ SÓ VAI NAMORAR DEPOIS DOS 30, SE EU DEIXAR'

Isabella Tibcherani Matias, filha de Cupertino e Vanessa, foi a segunda pessoa a prestar depoimento. Dessa vez, o réu não esteve presente. Ele foi retirado do plenário a pedido da filha.

A jovem iniciou sua fala com o relato do dia do crime. Segundo ela, naquela ocasião uma crise de ansiedade a fez chamar Rafael, que morava perto, para um encontro em uma praça. Ao sair de casa ela afirmou ter visto o pai chegar em casa, mas continuou seu trajeto.

Pouco tempo depois, ela contou ter recebido diversas ligações da mãe, mas não a atendeu. Somente quando a mãe de Miguel ligou ela atendeu a chamada.

O pai do ator os buscou na praça e os levou para a casa da família do jovem. Após uma conversa, os três e a mãe de Rafael seguiram para a casa de Isabella.

Foi na chegada à residência que Cupertino surgiu e atirou contra o trio, Isabella relatou.

Ainda no depoimento, Isabella declarou que Cupertino a proibia de tudo. "Minha liberdade de ir e vir era da escola para casa", disse.

Quando soube do namoro com Rafael pela mãe, Cupertino foi buscá-la na escola, algo que nunca tinha acontecido, e brigou com ela. Segundo Isabella, ela ficou punida por oito meses sem sair de casa e sem acesso ao celular.

"Você só vai namorar depois dos 30, se eu deixar", teria dito Cupertino para ela.

No período, os contatos com Rafael eram realizados pelo celular da mãe, sempre na ausência de Cupertino.

Os jovens só voltaram a se ver no dia anterior do crime, durante uma festa junina. Isabella contou que os dois chegaram a traçar planos de morar juntos em momentos anteriores.

A filha confirmou ter visto a arma do pai por diversas vezes, inclusive guardada no porta-luvas do carro.

De acordo com Isabella, o pai espancava a mãe frequentemente e, caso a filha chorasse, também apanharia.

O CRIME

O ator Rafael Henrique Miguel, 22, que interpretou a personagem Paçoca na novela infantil "Chiquititas", exibida pelo SBT, e seus pais foram mortos a tiros na tarde de domingo 9 de junho, no bairro Pedreira, zona sul da capital, quando iriam visitar a namorada do artista.

Segundo o boletim registrado pela polícia, o ator, acompanhado de seus pais, João Alcisio Miguel, 52, e Miriam Selma Miguel, 50, foram até a casa de sua namorada para conversar com o pai dela sobre o namoro, por volta das 14h. As vítimas foram recebidas pela mãe e pela namorada de Rafael Miguel.

Quando a família era recepcionada, o pai da garota teria chegado com uma arma e, em seguida, atirado contra as três vítimas, que aguardavam no portão da casa do atirador. As vítimas morreram no local.

Após os disparos, o Cupertino fugiu.


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