Gabriela Cristina Elias de Jesus, de 62 anos, foi detida na manhã da megaoperação policial contra o Comando Vermelho na Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro, por não permitir a entrada de agentes sem mandado judicial e por transmitir ao vivo a ação em sua residência. Durante a transmissão, era possível ver que apenas mulheres, crianças e um adolescente estavam na casa. O episódio ocorreu em meio à operação mais letal da história do país, que deixou ao menos 121 mortos, incluindo quatro policiais.

Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, Gabriela foi solta posteriormente, mas segue respondendo a processo por desacato e suposta associação ao tráfico. O órgão afirma que os policiais buscavam abrigo durante disparos e que a live da faxineira teria exposto a localização dos agentes em tempo real, aumentando o risco de violência. Além disso, o MP citou visitas anteriores de Gabriela a pessoas presas por tráfico como indício de vínculo com a facção.

Especialistas contestam as acusações. O professor de direito penal da FGV Direito Rio, Thiago Bottino, afirmou à BBC News Brasil que filmar a própria residência ou visitar conhecidos na prisão não caracteriza associação estável ao tráfico. “Uma live não caracteriza associação. Ela estava apenas se protegendo contra a invasão de sua casa”, explicou. A mãe de Gabriela, Selma Elias de Jesus, reforçou que a filha tentou proteger amigas e crianças no momento da ação: “O trabalho de vocês é aí fora, não aqui dentro”, relatou.

Durante a operação, relatos de familiares apontam agressões físicas contra Gabriela e outras mulheres presentes. A Defensoria Pública do Rio classificou a acusação de exagerada e especulativa. O caso será analisado agora pela 5ª Vara Criminal da Capital, que decidirá se apresenta denúncia, requisita diligências complementares ou promove o arquivamento do processo. Gabriela permanece sob acusação, mas já está fora da prisão.

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