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De olho em 2018, irmãos Gomes miram três frentes

Por Agência O Globo

30/09/2016 3h52 — em
Brasil



FORTALEZA —De olho nas eleições presidenciais de 2018, os irmãos Ferreira Gomes aproveitam o pleito municipal para fortalecer o chefe do clã e provável candidato à presidência da República, Ciro Gomes, apostando nos cenários nacional e local. Enquanto Cid Gomes ficou encarregado das viagens pelo interior do Ceará para eleger o máximo possível de candidatos nos 184 municípios, Ciro está percorrendo diversos estados do Brasil para reforçar potenciais palanques nacionais para 2018. Caso sua candidatura se torne viável, será a terceira vez que ele disputará a presidência.

Neste curto período eleitoral, Ciro já esteve em municípios de nove estados, de Norte a Sul do país, além do Ceará. Passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Amazonas, Piauí, Rio Grande do Norte e Goiás. Somente nesta semana que antecedeu o pleito, decidiu focar no interior do Ceará. A intenção é chegar a cerca de 400 prefeitos do PDT, legenda à qual o grupo comandado pelos Ferreira Gomes se filiou no ano passado, por todo o país. Nas últimas eleições municipais, em 2012, o PDT elegeu 319 prefeitos.

O presidente do partido, Carlos Lupi, que tem viajado o Brasil ao lado de Ciro, afirma que a candidatura à presidência é um caminho sem volta.

— Ciro é o candidato à presidência pelo PDT com certeza, não tem mais volta. Os partidos dependem de candidaturas para crescer. Ele está animado com a possibilidade de poder construir uma nova esquerda democrática. Tem um vazio para isso. Mesmo que o candidato não ganhe a eleição, marca posição do partido. Estamos trabalhando isso desde agora — afirma.

No Ceará, os Ferreira Gomes tentam reeleger o atual prefeito, Roberto Cláudio, um fiel aliado da família, que os seguiu nos três últimos partidos em que se filiaram: PSB, PROS e agora o PDT. Na mais recente pesquisa Datafolha, divulgada no último sábado, Roberto Cláudio aparece na liderança, com 32% das intenções de voto, mas seguido de perto pelo deputado estadual Capitão Wagner (PR), com 28%, que é apoiado pelos senadores Eunicio Oliveira (PMDB) e Tasso Jereissati (PSDB). No limite da margem de erro, que é de três pontos percentuais, eles estão tecnicamente empatados.

Nem mesmo a ida do ex-presidente Lula a Fortaleza, há duas semanas, mudou o quadro. A candidata do PT à prefeitura da capital cearense, a deputada federal Luizianne Lins, segundo a pesquisa, se manteve estável, no terceiro lugar, oscilando de 16% para 15%.

Mas, mais do que a capital cearense, a prioridade no estado é eleger o irmão caçula Ivo Gomes à prefeitura de Sobral, quinto município mais populoso no estado e berço da família Ferreira Gomes. Uma missão que não tem sido simples, já que Ivo tem a preferência dos eleitores, com 43% das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope divulgada nesta quinta-feira, mas é seguido de perto pelo segundo colocado, o deputado federal Moses Rodrigues (PMDB), com 36%, também apoiado por Eunício e Tasso.

— As duas cidades são muito importantes, sob todos os aspectos. Mas Sobral é a nossa cidade, daqui que a gente tira as referências de políticas públicas que vamos mostrar — justifica Cid Gomes, que votará em Sobral neste domingo.

O chefe do clã Ferreira Gomes já passou por sete partidos, de matrizes ideológicas tão diversas quanto o extinto PSD, sucessor do partido que deu suporte ao Regime Militar, e o PPS e o PSB. Há pouco mais de um ano, em setembro de 2015, Ciro se filiou ao PDT, com a promessa de espaço para construir sua candidatura à presidência da República em 2018. Sua filiação foi fundamental para conter o movimento do PDT de abandonar a base aliada a Dilma Rousseff e se firmar como um dos poucos partidos contrários ao impeachment. Na oposição ao governo de Michel Temer, Ciro mantém uma relação amigável com Lula.

No Ceará, apesar da rivalidade com o grupo político do PT comandado por Luizianne, o governador do estado, Camilo Santana (PT), é aliado da família Ferreira Gomes. Nesta eleição, Santana declarou apoio ao candidato do clã, Roberto Cláudio, mas evita participar diretamente da campanha devido a restrições legais e por compromissos com o PT.

A ida de Ciro para o PDT teve efeitos avassaladores. Segundo o presidente do partido no Ceará, deputado André Figueiredo — também ex-ministro de Dilma Rousseff —, a filiação dos Ferreira Gomes levou para o partido 60 prefeitos no ano passado. Antes, o PDT tinha o comando de apenas 9 municípios no Ceará.

— Com a filiação do Ciro e do Cid, vieram 60 prefeitos para o PDT. Nós tínhamos 9. O Cid fez um excelente governo nos últimos anos e isso ajudou muito. Com a vinda deles, todos que eram aliados vieram também — afirma Figueiredo.

Cid Gomes diz que o PDT tem estimulado a candidatura de seu irmão mais velho, mas se mostra cético sobre uma eventual aliança com o PT para 2018. Diz ter ouvido Lula dizer várias vezes que Ciro seria seu candidato à sucessão, promessa que nunca foi cumprida.

— O Ciro é a alternativa da esquerda brasileira. O ódio na classe média inviabiliza Lula no segundo turno de uma eleição presidencial. O PT vai pressionar para ele ser candidato, mas para a biografia dele, isso é terrível. Não é razoável que Lula seja candidato. Ele só será em um sacrifício pessoal para fazer bancada para o PT. Penso que podemos ter uma alternativa que não seja ele — afirma Cid.

André Figueiredo reforça que Ciro será o candidato do partido em 2018, mesmo que Lula se lance na disputa. E diz que, em qualquer cenário, deve haver apoio mútuo em um segundo turno:

— Ciro só não vai ser candidato pelo PDT se não quiser, mas ele tem dito para nós que quer. Lidamos com possibilidade de Lula ser candidato, mas o PDT tem candidatura própria, independentemente de qualquer coisa. No segundo turno, estaremos juntos. Isso já foi conversado com Lula. Mas temos esperança de Lula não sendo candidato e apoiar o Ciro — diz.

Para Carlos Lupi, nem mesmo o temperamento forte de Ciro irá prejudicá-lo desta vez. Dois exemplos clássicos do comportamento explosivo que acabaram pesando negativamente: quando chamou um eleitor de “burro” e quando disse que o papel na campanha de sua então companheira, a atriz Patrícia Pillar, era dormir com ele.

— Aonde ele vai, conquista a militância. Ele tem um discurso muito forte, muito nacionalista. E isso tem agradado os jovens, principalmente. Acho que ele está muito mais maduro. Ele começa a escolher quem ele deve atacar. Mas é uma característica dele. Sempre que conversamos sobre isso, ele responde: “Não controlo meu desejo de falar a verdade”. E ninguém pode ser julgado por falar a verdade, não é? — aponta Lupi.


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