Bolsonaro prega cautela e faz ação na internet no último dia de campanha
RIO — O candidato Jair Bolsonaro (PSL) passará a véspera da eleição que poderá torná-lo o 38° presidente do Brasil em casa, recebendo visitas, e falando aos eleitores pela internet, ambiente onde se projetou como uma nova força política. A estratégia é aproveitar as últimas 24 horas antes do início da votação para reforçar o pedido de voto e adotar um tom de esperança para o futuro governo.
Logo no início do dia de hoje, um vídeo começou a ser disparado em grupos de WhatsApp de apoiadores de Bolsonaro, deixando de lado os ataques mais pesados ao PT, marca do segundo turno, para exaltar um “Brasil patriota.” A propaganda, que se inicia com o nascimento de um bebê, apresenta violinistas executando o Hino Nacional e ainda uma sequência de imagens do presidenciável em várias regiões do país.
— Sejam muito bem-vindos a um recomeço, onde a liberdade e o respeito andam de mãos dadas. Um novo Brasil onde todos são iguais, sem divisões de gênero, raça, religião. Onde família é prioridade, um só povo unido sob a mesma bandeira e um mesmo lema — diz um locutor em off, cujo texto é completado com Bolsonaro dizendo o seu slogan de campanha: — Brasil acima de todos, Deus acima de tudo.
As últimas pesquisas de intenções de voto do Ibope e do Datafolha, que mostraram a aproximação de Fernando Haddad (PT), preocuparam a cúpula da equipe de Bolsonaro. O presidenciável — que há dez dias, em 17 de outubro, disse que já estava com “mão da faixa” — moderou o otimismo e passou a pedir mais empenho da militância. Apesar disso, a cúpula da campanha estima que, em caso de vitória nas urnas, cerca de 500 mil pessoas tomem a Avenida Lúcio Costa, em frente a casa do candidato, para comemorar o resultado.
"Toque de recolher"
Hoje, grupos de apoiadores farão ações de mobilização para ir às ruas em diversas regiões do país, como também marcarão presença massiva nas redes sociais subindo hashtags e publicando mensagens pró-Bolsonaro.
Até o resultado das urnas, no domingo à noite, deve imperar entre os aliados o “toque de recolher” imposto por Bolsonaro. Os aliados mais próximos temem que um escorregão, a exemplo de outros que ocorreram ao longo da campanha, ponha a eleição em risco.
Bolsonaro aproveitou ontem uma transmissão ao vivo no Facebook do filho, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), para fazer o que chamou de “apelo” aos eleitores para evitar uma “surpresa” no domingo:
— Vamos votar no domingo e, até lá, vamos convencer uma pessoa que está indecisa, que votou nulo ou até que votou no outro candidato, que vote na gente. Não tem nada decidido, nada ganho. Tem gente que acha que, como estamos bem, a pessoa vai fazer uma viagem, um churrasco na casa da sogra. Não que isso não seja bom, mas vamos votar domingo para que a gente evite qualquer surpresa. O outro lado está ativo, continua trabalhando.
Também ontem, o candidato que lidera as pesquisas criticou nomes que, segundo ele, vêm se promovendo para participar de um eventual governo. A dois dias da eleição, o presidenciável chamou de “oportunista” quem tem se apresentado como ministro e subiu o tom ao dizer que estes estarão fora do seu time caso chegue ao Palácio do Planalto.
A declaração de Bolsonaro ocorre após os deputados federais Alberto Fraga (DEM-DF) e Pauderney Avelino (DEM-AM), após visita ao presidenciável na última terça-feira, darem entrevistas afirmando que poderiam integrar o time do presidenciável do PSL.
“Com o intuito de se promover ou nos desgastar, oportunistas se anunciam ministros. Estes, de antemão, já podem se considerar fora de qualquer possível governo”, publicou Bolsonaro em seu perfil no Twitter.
Bolsonaro voltou a afirmar que apenas três ministros estão garantidos em seu eventual governo: o economista Paulo Guedes para o Ministério da Fazenda, o general Augusto Heleno para a Defesa, e o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) como chefe da Casa Civil.
Bolsonaro já desautorizou publicamente outros nomes que estariam cotados para seu possível governo. Entre eles, Henrique Prata, diretor do Hospital do Câncer de Barretos (SP), e o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, seu principal consultor para o agronegócio.
Ação contra Roger Waters
No front jurídico, a campanha pediu ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que investigue propaganda irregular favorável a Haddad, durante os shows de Roger Waters, ex-integrante da banda de rock Pink Floyd. Em turnê no Brasil, o músico fez ataques ao candidato dos PSL durante suas apresentações, inclusive chamando-o de fascista. Os advogados de Bolsonaro sustentam a ação em postagens, feitas no Twitter pelo ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão.
Leitão afirmou que “Roger Waters recebeu cerca de R$ 90 milhões para fazer campanha eleitoral disfarçada de show ao longo do 2º turno”. O ministro escreveu que Waters chamou Bolsonaro de “insano e corrupto” sem provas. “Isso sim é caixa 2 e campanha ilegal!”, completou. Disse ainda: “informação de fonte segura. US$ 3 milhões por show. Apenas de cachê. Sem contar a participação nas receitas”.
Os advogados destacaram ainda que a empresa que organizou o show é beneficiária da Lei Rouanet, que destina recursos públicos para a cultura, embora reconheçam não ter provas de que a lei foi usada para financiar o espetáculo.
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