Eleições na Bolívia terão segundo turno, indicam resultados iniciais
LA PAZ - O presidente da Bolívia, Evo Morales, obteve cerca de 45% dos votos, enquanto o ex-presidente Carlos Mesa conquistou 38%, apuradas 83% das urnas. Os resultados preliminares divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral indicam que os dois candidatos disputarão um segundo turno dentro de 60 dias, pois nenhum obteve 50% dos votos ou 40% mais uma diferença de 10 pontos sobre o segundo mais votado para ser eleito em primeiro turno.
Um segundo turno é prejudicial para Evo, que enfrentará uma oposição unida. Pesquisas apontavam um leve favoritismo de Evo sobre Mesa e indicavam que, ao contrário das três últimas eleições, a partir de 2006, desta vez ele não teria uma vitória tranquila garantida, algo inédito para o presidente, que há mais tempo está no poder na América Latina.
Evo apresentou suas conquistas sociais e econômicas durante a campanha, mas também foi afetado por escândalos de corrupção e acusações de uma guinada autoritária. Depois de votar em Chapare (Departamento de Cochabamba), o presidente expressou confiança e otimismo. “Acabo de votar e aproveito esta oportunidade para convocar o povo boliviano a participar nesta festa democrática”, disse.
Mesa era o único dos demais oito candidatos que poderia derrotar o presidente. E parte da oposição defendia que os eleitores optassem por um “voto de castigo” contra Evo, que confiava um “voto seguro” de sua base.
Mesa se reuniu no sábado com observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) para expressar suas dúvidas sobre a transparência da votação, acusando o Tribunal Eleitoral de parcialidade.
Mesa disse à AFP que a Bolívia tem “um partido que controla todos os órgãos do Estado, até mesmo o eleitoral” e “não tem entre seus princípios o respeito pelas regras da democracia”.
Além disso, afirmou, “temos um Tribunal Eleitoral que demonstrou um claro viés em relação à candidatura do MAS (partido do governo). Portanto, é provável que sejam feitas tentativas de afetar o resultado da votação, especialmente nas áreas rurais e em algumas cidades do interior”.
Ontem, ao votar, Mesa reiterou seus temores. “Não confio na transparência do processo, o Tribunal Supremo Eleitoral demonstrou que é um braço operacional do governo, nossa desconfiança é muito alta”, afirmou à imprensa depois de depositar seu voto em um bairro da zona sul de La Paz.
A cientista política María Teresa Zegadam afirmou que “o poder substituiu as políticas em benefício de toda a população por outras que satisfazem apenas alguns setores” e denunciou a “perseguição aos líderes da oposição”. “Tudo isso cria um mal-estar cidadão e o sentimento de que a democracia está em perigo.”
A presidente do TSE, María Eugenia Choque, ressaltou que foram tomadas medidas para garantir a transparência do processo eleitoral. / AFP
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