UEA precisa e deve anular o vestibular como resposta a suspeitas de vazamento
- A UEA deve continuar como a meta de jovens que sonham grande - e são poucos hoje. Mas a universidade, como centro do conhecimento, deve preservar seu nome, sua identidade, sua história e seu compromisso com o futuro.
Vestibular é sempre um teste de aptidão, memória e conhecimento. E quando chega o dia das provas é inevitável projetar sonhos, correr contra o tempo, chegar na hora marcada, com lápis, caneta, coração palpitando e uma vontade de ir ao banheiro. Mas, o banheiro ??? Não há tempo. O negócio é segurar, assim como as emoções, concentrar nas perguntas, nos cálculos.
Afinal, este um passo para o futuro, uma porta que não se abre por acaso: é produto de dias de estudo, de renúncia a diversões, de apego aos livros e, mais que isso, da crença de que os espertos não prevalecerão sobre o saber, nem a fraude, nem o descaso, nem a incúria, nem os apadrinhamentos.
O Vestibular é um teste de democracia, aberto a todos, e sua finalidade é privilegiar o conhecimento.
Tudo isso (e mais) tornou a tarde domingo o melhor momento para muitos estudantes. Até que a noite chegou cheia de sombras, plantando dúvida nos corações e esvaziando a vontade de muitos candidatos retornarem para o segundo dia de provas. (48,84% desistiram, um índice alto demais)
O que motivou esse momento de angústia, dúvida e até desespero? A divulgação de fotos da prova pelo aplicativo WhatsApp.
A questão, abordada de forma tímida pela reitoria da UEA, durante a manhã desta segunda-feira, já demonstrava o desconforto da instituição com um fato que colocava em xeque a seriedade do concurso.
A primeira versão dada pela reitoria da Universidade foi a de que tudo era fake, mas admitia, em nota, que a foto fora feita por um aluno. À tarde, após investigações, a versão mudou: o criminoso era um monitor, guardião do certamente, juiz na sala de exames.
Mesmo assim, a UEA afastou o vazamento, com a versão de que a foto fora divulgada a partir das 17 hs( Veja Audio abaixo).
A questão é mais séria e a UEA insiste em não observar o fato de que, embora a divulgação tenha sido feita após a prova, a possibilidade de ter ocorrido vazamento existe. É só se debruçar sobre outra questão relevante: a manipulação do documento pode ter ocorrido de outras formas e que sua divulgação pelo aplicativo WhatsApp, as 17 horas, pode ter sido uma forma de despiste.
Como existe essa possibilidade de as investigações apontarem que houve vazamento, o correto seria, mesmo diante de “mera” suspeita, para utilizar a expressão usada por um professor, anular as provas pelo simples fato de que o desgaste que o caso provoca na imagem da instituição é grande.
A UEA deve continuar como a meta de jovens que sonham grande - e são poucos hoje. Mas a universidade, como centro do conhecimento, deve preservar seu nome, sua identidade, sua história e seu compromisso com o futuro.
O vestibular é a porta da Universidade do Estado do Amazonas, que não pode ser arrombada. Tem que ser aberta pelos que conquistam, pelo mérito, a chave do conhecimento que vão adquirir a partir de seu ingresso na instituição.
Anular o vestibular e realizar outro é a medida que se espera da reitoria, por ser a mais correta e a mais corajosa.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.