Tratado como príncipe na CPI, Pazuello só amarelou quando o assunto foi a crise de Manaus
- O senador Eduardo Braga tinha em mãos números, datas, a taxa de oxigênio que faltou na rede hospitalar e o insuficiente volume do produto que chegava a Manaus via aérea, no auge da pandemia. Tudo o que Pazuello parecia conhecer muito pouco, ou não conhecer. Veio a vertigem do ex-ministro, causada pelo receio de finalmente ter sido emparedado e pelo estresse…
O general Eduardo Pazuello mentiu e omitiu durante mais de sete horas à CPi da Covid, até ter uma vertigem, ser atendido por um médico e o presidente da Comissão, senador Omar Aziz (PSD), suspender a sessão. Mas foi tratado como um “príncipe”, até o momento em que a questão de Manaus - a escassez de oxigênio veio à tona e o senador Eduardo Braga(MDB), confrontou o ex-ministro e pediu que ele falasse a verdade.
Braga tinha em mãos números, datas, a taxa de oxigênio que faltou na rede hospitalar e o insuficiente volume do produto que chegava a Manaus via aérea, tudo o que Pazuello parecia conhecer muito pouco, ou não conhecer na medida adequada para um ministro da saúde que liderava, naquele momento, o combate a uma pandemia que matava diariamente cerca de 200 pessoas na cidade de Manaus.
Veio o mal-estar, provocado pela cansaço, pelo estresse, pelo receio de que os argumentos montados para desconstruir a CPI caíssem por terra.
O socorro ao ex-ministro também veio do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que cortou o sinal da TV aberta que transmitia a reunião da CPI para iniciar uma sessão remota da Casa com outros senadores.
Pazuello retorna nesta quinta, cedinho, já restabelecido da vertigem e municiado de dados sobre Manaus. E com um caminho definido: oferecer cabeças e sair ileso de um caso onde ele já provou nesta quarta-feira que não conhece, embora estivesse durante a crise de Manaus na cidade, centro do furacão.
Por razões nada compreensíveis, Pazuello tentou proteger, de forma indireta, o governo do Amazonas. Documentos em poder da CPI e do próprio Pazuello mostram que, de fato, no dia 6 de fevereiro o governo do Amazonas afirmava que não havia risco de faltar oxigênio e, neste ponto, o ex-ministro tem razão.
A crise de Manaus pode ser compartilhada com o Ministério da Saúde, mas a responsabilidade maior é do governo do Amazonas.
É uma crise de duas cabeças e uma delas tem que ser cortada. Se Pazuello não tiver a coragem de dar o primeiro golpe, é a sua cabeça que acabará na guilhotina.
A crise de Manaus tem nome e CPF: Wilson Lima, governador do Estado.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.