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Toda a PM do Amazonas nas ruas e uma ordem de captura primitiva


Por Raimundo de Holanda

04/05/2022 20h02 — em
Bastidores da Política



É louvável o interesse do governador do Amazonas, Wilson Lima, e do comandante da Policia Militar, Marcos Vinicius, de prender o responsável pela morte do cabo Isaias Cardoso de Oliveira. Wilson mobilizou toda a polícia na caça ao criminoso e o coronel deu uma declaração no mínimo inapropriada: “esse assassino vai ser pego e chegar aqui de pé ou deitado”.

Fazer justiça com as próprias mãos não é papel de ninguém, muito menos da polícia. Se satisfaz instintos primitivos e de vingança, trai o compromisso da instituição policial com a justiça - aquela que tem como princípio o direito ao contraditório e a um julgamento justo. A polícia precisa e deve prender o criminoso. Mas que não chegue deitado porque alegações de que resistiu à prisão não resistiriam a uma serena análise da declaração antecedente do comandante.

Para além dos arroubos do coronel, que se compromete caçar o criminoso e "trazê-lo de pé ou  deitado”, cabe  outra vez - mil vezes até -  indagar  onde estão os autores dos 1.060 homicídios ocorridos apenas em Manaus ano passado? Ou quantos foram solucionados ? Ou mesmo os cerca de 300 registrados  entre janeiro e março deste ano?  São números altíssimos, muitos dos quais colocados na cesta do esquecimento. Em ao menos 80% dos casos, não houve prisão, nem culpados…

O que vale para o cabo Isaias Cardoso, vale para todas as vítimas dessa violência que em dois anos matou na cidade de Manaus  2.600 pessoas. É muita gente. É uma carnificina, uma guerra travada abertamente nos bairros da cidade.

Vale o empenho rigoroso da Polícia Militar, vale a demonstração de bravura de homens que entraram na corporação para defender a sociedade, sem nunca esquecerem que a farda os torna representantes de um Estado com Poderes legitimamente constituídos - e que cabe ao Judiciário julgar acusados da prática de crimes.

Ir além desses limites é aderir a barbárie e a uma violência que só cresce na cidade de Manaus. O papel da polícia é conter a violência, é ser altiva e eficaz nessa função; é prender criminosos e apresentá-los a um juiz. Policial que não aceita seguir essa regra, escolheu a profissão errada.

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.