STF será julgado pela história
- Nesta terça-feira não estarão no banco dos réus apenas Bolsonaro e seus aliados implicados em suposto atentado ao Estado de Direito. O STF também será julgado pela história. E pode sair desse processo condenado politicamente, não por seus votos, mas pela imagem de excesso que ele próprio cultivou.
Na abertura do julgamento da Ação Penal 2668, o ministro Alexandre de Moraes prometeu imparcialidade e respeito ao devido processo legal. Mas, no mesmo discurso, afirmou que o STF será “absolutamente inflexível na defesa da soberania nacional e da democracia”. O contraste é evidente: a missão do tribunal é aplicar a Constituição e julgar com base em provas, não se transformar em guardião político de valores difusos que pertencem a todo o Estado.
O resultado é a percepção de que Jair Bolsonaro ingressa nesta terça no plenário como condenado. Mais de 1.600 réus já foram punidos nos processos de 8 de janeiro, e nos bastidores se discute penas entre 25 e 30 anos para o ex-presidente e seus aliados — número que circula antes mesmo do fim dos debates e votos.
A responsabilização de quem eventualmente tentou subverter a democracia é necessária. Mas se o STF optar por uma retórica de cruzada política, terminará por colocar em xeque a própria imparcialidade que afirma defender.
ASSUNTOS: Alexandre de Moraes, Bolsonaro, STF
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.