Omar Aziz e a nota raivosa dos militares
O que falta aos comandantes militares que assinam a nota contra o senador Omar Aziz, presidente da CPI da Pandemia, é o que eles dizem que fazem: "a observância da lei” e "o comprometimento em preservar e salvar vidas”. E se equivocam ao achar que são "defensores da liberdade e da democracia”. Estão cegos pela soberba. O que acabam de fazer é provocar uma crise política, com consequências imprevisíveis.
A prisão do ex-diretor do Ministério da Saúde, Roberto Dias, pode até ser didática, mas não ocorreu porque, como os outros depoentes, mentiu à CPI da Pandemia. A atitude do senador Omar Aziz, que surpreendeu até mesmo seu interlocutor mais próximo, Randolfe Rodrigues, foi uma explosão interna, de raiva, dor e revolta com a morte de mais um amigo, o empresário Otávio Raman Neves, no dia de ontem, quando o número de mortos pela Covid no Brasil se aproximava dos 600 mil.
O que Omar não esperava - ninguém com lucidez esperava - era que uma frase sua falando da parte podre do Exército que aparelhou o Ministério da Saúde e se envolveu em corrupção, em contraposição a parte boa, provocasse uma forte reação dos militares que entendem, equivocadamente, que são defensores da liberdade e da democracia.
A Nota das Foças Armadas, que chama Omar de "leviano", não é um ataque em si mesma a um senador da República, que preside uma CPI importante para o País, mas ao Congresso Nacional como um todo.
Se o senador Rodrigo Pacheco se abaixa e vem de quatro, Omar grita solitário: “O Congresso somos todos nós”.
E não apenas, você Omar, os senadores ou deputados. O Congresso somos nós cidadãos, que votamos e rejeitamos a intromissão descabida das lideranças das Forças Armadas na política, que repudiamos aqueles que, sob o peso de três ou quatro estrelas nos ombros, se sentem atacados quando apenas um grupo suspeito de corrupção, que veste farda, é colocado contra a parede.
Os comandantes militares têm o dever de pedir desculpas pelo erro, admitir que, como em toda instituição, inclusive familiar, há os que erram e precisam ser punidos.
O que os comandantes militares fizeram, ao assinar a nota contra o presidente da CPI da Pandemia, mais por ingenuidade do que por serem iguais aos que sujam o conceito das instituições que representam, foi se juntar ao lado obscuro que a CPI quer trazer para o lado claro e submetê-lo à justiça.
Acabam de provocar uma crise politica, talvez institucional, porque falam sobre democracia e união, mas estão de olho nas baionetas, que os encoraja a falar grosso contra um senador da República.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.