A morte da procuradora Nina e a história desses dias de luto e dor
- Era hora se pensar num grande mural com os nomes de todas as vítimas da pandemia no Amazonas - dos 8.266 mortos até hoje - quantos amanhã? A história não pode esquecê-los.
Antonina Maria do Couto Vale, a procuradora que morreu de Covid nesta segunda feira, era Nina para os amigos. Continuará como Nina na memória dos que a amavam, a admiravam e compartilhavam de seus sonhos. Mas Nina é mais um nome, entre 8.266 amazonenses que a Covid matou até esta segunda-feira. E matou porque teve aliados - governantes incompetentes, despreparados, que não projetaram uma segunda onda, nem aprimoraram os serviço de saúde. São criminosos que serão julgados, se não pela justiça, pela história que está sendo escrita agora. Nossos filhos ou netos serão testemunhas do que o futuro dirá dessa gente inescrupulosa e corrupta.
Não dá para esquecer dos Joãos, das Marias, dos Antônios, dos Josés e das Anas - tantas Marias e Josés mortos pela união do virus com a incompetência e as ambições dos governantes de plantão.
Era hora se pensar num grande mural com os nomes de todos eles - das 8.266 vítimas da pandemia até hoje - quantos amanhã? A história não pode esquecê-los.
Ao pé desse mural deve estar os nomes de Jair Messias Bolsonaro, presidente do Brasil, Wilson Lima governador do Amazonas e David Almeida, prefeito de Manaus. E a frase em torno de seus nomes:
Bolsonaro permitiu que o virus se espalhasse ao dizer que se tratava de uma simples gripe, e incentivou aglomerações.
Wilson Lima comprou respiradores em uma adega para beneficiar amigos, enquanto muitos morriam.
David Almeida foi acusado de desviar vacinas e sua prisão, embora requerida pelo Ministério Público, foi negada pela Justiça. Tempos de escuridão aqueles.
É a história sendo escrita…
Para encerrar, a dor da irmã da procuradora Antonina Maria do Couto Vale, Soledad, que transcrevo aqui também compartilhando dessa tristeza imensa. Ela perdeu a mãe e a irmã no mesmo dia…
'"Hoje em meio à dor e desolação de perder tanta gente querida, informo que desligaram os aparelhos da minha mãe, já se encontra livre das amarras e seu espírito pode ir para a luz, foi no exato momento em que minha irmã Nina teve a parada cardíaca derradeira.
Elas eram almas gêmeas, foram embora juntas, foi feita a vontade de Deus, ele as curou de toda dor e sofrimento. Se existe dor maior que essa, desconheço, mas como cristã católica, aceito!" - Soledad
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.