A morte da mãe de Kimberly e a sensação de que a justiça que queria era outra
Naquele trágico 12 de maio de 2020, quando a filha, Kimberly Mota foi assassinada pelo namorado, Neylla Pinheiro começou a morrer lentamente e seu fim ocorreu após o julgamento do acusado, Rafael Fernandes Rodrigues. Talvez Neylla tenha tido por um momento a vaga compreensão de que o Judiciário fez o seu papel, mas a justiça para ela provavelmente tinha outros valores
Neylla Pinheiro Mota era uma mulher, padecendo de um câncer que se agravou com o assassinato da filha, Kimberly Karen Mota de Oliveira, em 2020. Ela prestou depoimento por videoconferência (durante o julgamento do acusado) da cama do hospital onde era tratada. Soube do resultado: 14 anos de prisão. Morreu horas depois, vendo a justiça sendo feita? Improvável.
Nenhuma pena, nenhum castigo compensa a dor que sentiu, a perda que teve, o horror que foi reconhecer o corpo dilacerado da filha.
Naquele trágico 12 de maio de 2020, Neylla começou a morrer e seu fim foi doloroso.
Talvez tenha compreendido que o Judiciário fez o seu papel, mas a justiça para ela provavelmente tinha outros valores, outro conceito - estava na compensação da dor para qual não havia remédio.
A dor que não permitiu que ela pacificasse suas ideias nem contivesse a mágoa avassaladora que sentia, a ponto de destruir suas defesas e permitir que a doença avançasse de forma feroz, destruindo sua resistência.
Filhos são tudo, são pedaços de nós. A morte deles se reflete em nossas almas. Somos a humanidade que resta - se o resto não pensa assim…
Não dá para imaginar o tamanho da dor de Neylla Pinheiro Mota. Mas seu fim não ocorreu, como muitos afirmam, vendo a justiça sendo feita.
Não. Como a filha, ela foi vítima de uma violência atroz, uma agonia que só passou quando iniciou a grande viagem. Vá em paz Neylla, e que tragédias como a que feriu seu coração e pós fim a uma vida promissora como de Kimberly não se repitam, não na frequência com que tem ocorrido.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.