Monique, Jairinho e o garoto Henry Borel - a tragédia que a paixão produz
- Tanta culpa tira o sono. É impossível medir a angústia de uma mulher traída pelo desejo e pela paixão, sentimentos passageiros, destrutivos e mortais, que para Monique resultaram em uma tragédia insuperável: a morte do filho que amava. O que me irrita neste caso e em todos os outros que envolvem crianças maltratadas, é o julgamento precoce que fazem das mães…
Todo mundo está falando de Monique Medeiros, mãe de Henry Borel, de 4 anos, provavelmente morto por espancamento pelo padrasto, o vereador carioca Jairo Souza Santos Júnior, o dr. Jairinho. Falam da futilidade dela, da aparente indiferença com a morte do filho ao prestar depoimento na delegacia e tirar uma Selfie. Vejo diferente.
Talvez essa tenha sido uma forma de respirar, tirar do peito um pouco da dor de ter contribuído voluntária ou involuntariamente para a morte do filho. Ao decidir ir ao salão talvez tenha, na sua angústia, olhado as mãos e percebido que havia sangue. O esmalte cobriria metade de sua culpa?
Lavou os cabelos como quem tenta lavar a alma e se redimir do seu pecado. A selfie, tão criticada pelo imprensa, tirada um dia após o enterro de Henry, foi uma forma de se descobrir na foto como era antes e como ficou depois. Pode ter sorrido, como muitos alertaram, mas não havia graça em seu olhar, não conseguiu esconder as cicatrizes que agora ficaram para toda a vida.
Tanta culpa tira o sono. É impossível medir a angústia de uma mulher traída pelo desejo e pela paixão, sentimentos passageiros, destrutivos e mortais, que para Monique resultaram em uma tragédia insuperável: a morte do filho que amava.
A paixão é uma espécie de escravidão. E esse é o estágio final de uma relação que leva ao crime e a tragédia. Monique estava nessa linha tênue que separa paixão do amor - o "eu te amo”, que como Tim Maia diz em “Sozinho”, não pode sair da boca pra fora: ’"Quando a gente gosta é claro que a gente cuida”… Nem Monique cuidava dela, nem Jairinho cuidava de Monique. Sobrava Henry, encolhido dentro de um quarto onde sofria dois tipos de tortura: a física e a psicológica, pois era ameaçado de que, se contasse à mãe….
O que me irrita neste caso e em todos os outros que envolvem crianças maltratadas, é o julgamento precoce que fazem dos pais, neste caso em que não havia laços de afetividade com o homem, faz sentido culpar o padrasto. Mas não a mãe, não na avalanche de suspeitas que jogaram sobre ela.
Faltou a Henry a presença do pai. Do pai de verdade…
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Quero lembrar que um grande número de homens são pais-mães, ou no linguajar popular, pamonhas, que é uma mistura viscosa de pai e mãe, pai bobo, pai leso, mas pai presente, pai que cuida, que abre caminhos, que conduz os filhos na travessia da vida.
Conheço muitos homens assim. Os filhos devem achá-los bobões, mas sabem que abraçaram a missão de conduzi-los para o outro lado do rio. Sabem que são o remadores, os canoeiros que enfrentam as ondas e os livram de naufrágios. Sabem que os amam e não é da boca pra fora…
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.