Marcelo Ramos é vítima do 'bateu levou', mas o derrotado é o Amazonas
O Regimento Interno da Câmara dos Deputados prevê que parlamentares que compõem a Mesa Diretora poderão ser substituídos em caso de mudança de partido. É a lógica. Afinal, a diretoria da Casa é produto de uma composição suprapartidária. Ao sair do PL, o deputado Marcelo Ramos (AM), abriu caminho para a sua substituição. O termo 'destituição' é pesado e vago ao mesmo tempo. Renovação traduz melhor a decisão do presidente Arthur Lira, de promover eleição para cargos em aberto, inclusive o de vice-presidente.
A alegação de Marcelo Ramos, de que houve pressão do Palácio do Planalto, por ser crítico do presidente Bolsonaro, é pertinente. Mas a decisão de Lira é legitima. Tanto que o ministro Alexandre de Moraes, do Tribunal Superior Eleitoral, revogou liminar que mantinha o deputado no cargo, ao entender que “é competência privativa da Mesa Diretora da Câmara deliberar sobre o tema".
Na verdade, Moraes evitou mais uma interferência do Judiciário em um assunto que é de exclusiva alçada da Câmara dos Deputados. Não cabe - como não coube em outros casos - a invasão do Judiciário em assuntos do Poder Legislativo. Ao menos nessa questão, o ministro colocou freio nos seus já conhecidos ímpetos…
Marcelo Ramos tem razão em um ponto: “a vice-presidência da Câmara não vale a omissão aos ataques do governo federal contra a Zona Franca de Manaus”. Não vale mesmo, mas é ponte para chegar onde outros parlamentares não teriam acesso. Espaço para dialogar, buscar soluções, mostrar as ambiguidades do governo federal, propor parcerias em favor do pólo industrial de Manaus. O confronto resultou no que o deputado está vendo agora.
Na verdade, não soube usar de um cargo importante para influenciar tanto seus pares quanto o governo a mudar a visão equivocada que têm sobre o modelo industrial de Manaus. A sua substituição é uma grande perda para ele e para o Estado do Amazonas.
O deputado tem mérito e não se pode ignorar sua inteligência, mas não percebeu que estava no lugar certo para fazer pontes, abrir portas e janelas que esse e outros governos fecharam para o Amazonas. Triste tempo o que vivemos…
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.