A Manaus que adoece não encontrou 'competência' no Judiciário
O Ministério Público do Amazonas não fez um pedido vago de busca, apreensão e prisões de agentes públicos, entre eles o prefeito de Manaus, David Almeida, por envolvimento no escândalo da vacina. Há delações que envolvem o prefeito, a secretária de Saúde do município e outros servidores. Há provas de ilícitos (que foram anexados aos autos) e que justificam, senão a prisão, as buscas e apreensões.
Parte dos depoimentos foram colhidos pelo Ministério Público Federal e repassados ao Grupo de Combate ao Crime Organizado do MP-Am. Por isso a ação foi formalizada na esfera estadual.
Ações que envolvem autoridades historicamente não prosperam no Amazonas. Os poderes são “harmônicos”, mas dependentes em muitos aspectos. As relações são muito próximas e as vezes interesses se misturam.
Não foi uma surpresa a negativa ao pedido do MP - na medida em que a outra esfera da justiça foi atribuída a prerrogativa de decidir - assim como não surpreendeu o fato de o prefeito David Almeida considerar a ação contra ele um “desaforo”, um “despropósito”.
Age como se fosse inimputável, como se estivesse acima da lei, como se pudesse ignorar medidas requeridas tanto pela Justiça Federal como pelos órgãos de controle.
De fato, surpreendeu a medida requerida pelo Ministério Público do Estado do Amazonas - que assume agora um protagonismo inédito no combate a corrupção.
Vai encontrar, seguramente, algumas portas do Judiciário fechadas, mas ações do tipo acordarão a sociedade, as ruas gritarão e a justiça acordará na medida em que esses gritos se tornarem frequentes.
RISCO DE ISOLAR MANAUS
Manaus pode ser isolada literalmente do resto do País, caso fique comprovado que foi um erro o envio de pacientes com Covid 19 para outros Estados e que essa medida, sem o chamado "bloqueio de biossegurança", tenha resultado na disseminação pelo Brasil da variante amazônica do coronavírus.
Invés da montagem de uma força - tarefa, com especialistas e forte investimento em leitos de UTIS, o governo federal optou pela transferência de pacientes país afora.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.