A judicialização convertida em governo
- O mesmo Congresso que se tornou senhor das emendas impositivas — e, portanto, do gasto — agora pretende submeter também o endividamento federal a seu crivo político.
- O Supremo Tribunal Federal, a exemplo do Legislativo, tem invadido o terreno da gestão pública, interferindo em políticas de natureza administrativa e orçamentária.
A proposta de limitar o endividamento da União, apresentada no Senado, expõe um fenômeno mais profundo que a disputa fiscal: o avanço do Legislativo sobre as funções próprias do Executivo.
O que se apresenta como zelo fiscal é, na verdade, a institucionalização da dependência: o governo passa a negociar não apenas o Orçamento, mas a própria capacidade de se financiar.
Esse desarranjo não se restringe à arena parlamentar. O Judiciário, e em especial o Supremo Tribunal Federal, a exemplo do Legislativo, tem invadido o terreno da gestão pública, interferindo em políticas de natureza administrativa e orçamentária.
Questões típicas do Executivo — como a condução de programas sociais, ambientais e fiscais — passaram a ser resolvidas por decisões judiciais que, muitas vezes, abandonam a lógica jurídica para assumir a lógica política. É a judicialização convertida em governo.
O resultado é um Executivo encurralado, cercado por vetos do Congresso e decisões do Supremo, num cenário em que o princípio da harmonia entre os Poderes — pilar da Constituição — vem sendo corrompido em sua essência.
A harmonia não exige submissão, mas respeito recíproco; e o que se vê hoje é o oposto disso: um Estado em que o poder, dividido em nome do controle, se torna refém de disputa que faz mal ao País.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.