A história de Cláudia e Júlia que não foi contada
- Quando duas mulheres deixam a cidade onde nasceram em busca de um sonho - como fizeram as amazonenses Cláudia e Júlia, assassinadas em São Paulo - é porque o sentido da vida é essa eterna busca da felicidade. As vezes dá tudo errado…
A vida para a maioria dos amazonenses é um grande desafio. Sem emprego, sem comida na mesa a vida só faz sentido porque muitos se apegam à fé. Mas a fé é a miséria compartilhada, onde as igrejas se apropriam da metade do pão que sobrou.
Os que envelhecem agradecem porque não ficaram pelo caminho, não tiveram a má sorte de ser mortos na violência da cidade, discriminados pela cor, prostituídos, transformados em aviões do tráfico ou presos como se ladrões fossem.
Mas há uma inquietude que consome a imaginação dos que não se conformam com a situação presente. E o pensamento voa em busca de abrigo, às vezes em terras distantes, onde as oportunidades são maiores.
Quando se deixa a cidade onde se nasceu em busca de um sonho - como fizeram as amazonenses Cláudia e Júlia, assassinadas em São Paulo - é porque o sentido da vida é essa eterna busca da felicidade. As vezes dá tudo errado.
A possibilidade de fracasso é sempre maior do que a conquista do sonho desejado, porque a felicidade é um caminho de pedras, com seus monstros aniquiladores, com suas armadilhas e trapaças. Poucos a conquistam. Muitos, como as duas amigas, acabam perdendo a vida.
Cláudia e Júlia foram assassinadas mas também julgadas pelo tribunal da internet, com fotos sensuais, tudo exposto, em narrativa que adentra sem pudores a intimidade das duas mulheres.
O sonho delas virou pesadelo para as duas famílias. Rendeu audiência para os programas sensacionalísticos da TV horror.
Ninguém procurou saber a história dessas moças, a infância pobre, a escola onde estudaram, as bonecas que tiveram, o primeiro contato com a internet.
Essa história, se contada, renderia algumas lágrimas. E, senão a certeza, a sensação de que essa exposição de seus corpos e de suas fantasias, das suas relações, de sua sexualidade, é uma segunda morte da qual todos de certa forma estão participando.
Que elas descansem em paz….
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.