Grupos que mandam no governo do Amazonas e a divisão de poder no Estado
A eleição de Wilson Lima em 2018 mergulhou o Amazonas em uma crise moral e política sem precedentes na história do Estado. O homem que tomou posse em 1 de janeiro de 2019, com a proposta de mudar a cara do governo, colocou o Amazonas no centro de ao menos dois grandes escândalos - o da falta de oxigênio e leitos durante a segunda onda da Covid 19, com centenas de mortes que poderiam ter sido evitadas, como fez vista grossa ao uso do aparelhamento da inteligência do governo para o cometimento de assaltos.
Wilson Lima apareceu na eleição como a esperança de um eleitorado que exigia mudanças radicais na politica, mas seu enfraquecimento começou no dia da vitória, quando integrantes do grupo empresarial que o ejetou da televisão para a politica assumiram, publicamente, que o poder era deles e somente deles, Que eles haviam vencido.
De lá para cá ocorreu uma sucessão de erros, disputas por fatias de poder e agravou-se agora, com a repartição do governo.
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Submetido a sucessivas ameaças de formação de CPIs e de impeachment, que não saíram das gavetas, Wilson permitiu a formação de uma espécie de governo de coalizão, não oficialmente declarado, mas concebido claramente nos bastidores. Deputados começaram a ocupar secretarias ou indicar prepostos, a fazer contratos e interferir na administração.
O governo do Amazonas foi transformado em um sistema misto - onde o governador finge que manda e os parlamentares sabem que governam. Mas não sozinhos, há interesses remanescestes do processo eleitoral, que não podem ser quebrados
Todo esse cenário caótico deslegitima o governo e aponta para a necessidade de uma urgente intervenção do Judiciário, já que os órgãos de controle fizeram sua parte, denunciando crimes de corrupção e apontando Wilson Lima como líder dos desmandos que resultaram em ao menos três operações da Polícia Federal, inclusive na casa do governador e no Palácio da Compensa, além da prisão de vários secretários.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.