A frase que colocou Carlos Almeida no centro do escândalo dos respiradores
Numa frase, agora revelada, Rodrigo Tobias, ex- secretário de Saúde do Amazonas, expõe o vice governador Carlos Almeida e o coloca no centro do escândalo da compra superfaturada de respiradores: "Procura o Carlos Almeida, pois ele vai ter que te ajudar”. Foi a mensagem encontrada no celular de Perseverando Trindade Garcia Filho, após este receber uma intimação do Ministério Público e comunicar ao então secretário.
Os investigadores vêem neste detalhe e em outros expostos na denúncia, indícios de envolvimento do vice com a Organização criminosa. Mas são indícios ainda frágeis. Independentemente de ser inocente ou culpado - e a culpa não aparece na denúncia acolhida pelo Ministro Francisco Falcão, Carlos já foi exposto, é co-autor de um crime do qual ele diz que não participou.
Fica a versão dos procuradores e da PF, em uma teia de suposições, como as expressões que utilizam na peça acusatória indicam: ’ïnfere-se que", "aduz - se que” e o "supostamente”, expressões que apontam dúvida sobre o comportamento “criminoso" do acusado…
No acolhimento da denúncia, o Ministro Francisco Falcão revela uma certa timidez em contrariar a acusação, limitando-se a argumentos de “cognição, limitada ou superficial”, alegado pelos acusadores. Na conclusão, uma frase que também revela dúvida do próprio ministro com a sentença que profere: “O quadro probatório apontado na representação policial e na manifestação ministerial caracteriza causa provável que legitima e autoriza a realização de busca e apreensão nos endereços investigados."
"Causa provável" é causa para busca? Causa para prisões? Talvez, mas medidas como a adotada pelo ministro deixam no ar a impressão, ruim, de que o Judiciário é refém dos órgãos acusadores e não tem nem pessoal técnico, nem estrutura para avaliar pedidos extemporâneos que afrontam a liberdade, direito a intimidade, a não violação do lar, direitos fundamentais previstos na Constituição do País.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.