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'Fake News' e a visão daltônica dos poderosos sobre a verdade factual


Por Raimundo de Holanda

09/10/2021 19h33 — em
Bastidores da Política



Durante a ditadura que durou 25 anos,  os principais veículos brasileiros que hoje se autoproclamam donos da verdade factual inundaram o país com noticias falsas sobre um governo que, na opinião deles, não mentia, não corrompia, não torturava. A verdade era outra, escondida do grande público num sistema de trocas. 

A concessão do Nobel da Paz a dois jornalistas. - Maria Dessa - das Filipinas e  Dmitry Muratov , da Rússia, foi comemorado como um reconhecimento de que a liberdade de expressão “é uma pré-condição para a democracia e para a paz duradoura”, como expressou o próprio comitê do Nobel. 

O que não foi dito é que os governos das Filipinas e da Rússia acusam os dois jornalistas de disseminarem “fake news”.  

Num mundo em que a informação factual  se tornou daltônica, especialmente para os governantes, os políticos, a justiça e grupos de interesse, tudo é "fake" e a verdade é objeto permanente de contestação.

A utilização da expressão “Fake News” é que se tornou perigosa, pois serve ao mau governante, ao mau empresário, ao mau juiz, ao mau sacerdote. Em certo sentido, serve de instrumento para a desconstrução da verdade e para a censura.  

E vai além, reforça a desesperada tentativa de meios de comunicação em franco declínio  - jornais impressos e emissoras de tv - de tentarem se colocar na condição  de detentores exclusivos  de um jornalismo isento e confiável.

É verdade que o surgimento de novas mídias fez explodir um tipo de jornalismo danoso, que já existia antes das redes sociais.

A falsa notícia ou a notícia “sabidamente inverídica” permeou por séculos os meios de comunicação tradicionais. Por exemplo, no Brasil, durante a ditadura que durou 25 anos,  os principais veículos que hoje se autoproclamam donos da verdade factual inundaram  o país com noticias falsas sobre um governo que, na opinião deles, não mentia, não corrompia, não torturava. A verdade era outra, escondida do grande público num sistema de trocas.

Com algumas poucas exceções, durante esse período triste da história do Brasil, receberam como recompensa rotativas novas, transmissores novos, foram isentos de impostos. Na prática, negociaram a verdade em benefício próprio, enquanto mentiam para seus leitores e telespectadores. 

É bom para a democracia pôr um fim às noticias falsas. Mas é importante que  governantes, políticos, empresários e  sacerdotes deixam de hipocrisia. Assumam seus erros diante de criticas que visam esclarecer a sociedade e dar publicidade a atos que, por imposição constitucional, devem chegar de forma clara à população. Precisam ter a grandeza de admitir erros e preservar  a honra dos que falam a verdade.

É aqui que entra o papel do Poder Judiciário, até agora incapaz de compreender o que é informação factual sem o daltonismo da interpretação alegada pelos supostos ofendidos.  

Mas é evidente também  que a internet permitiu a multiplicidade de veículos on line, que abusam do poder que tem para pressionar governos em benefício de seus dirigentes. Esse comportamento é condenável e  também precisa ser combatido, em nome da verdadeira e legitima liberdade de expressão e opinião. 

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.