Dorme em paz, Thiago de Melo. A cor do mundo não vai mudar…
Eu preferia o silêncio deste dia, das lembranças em que perdemos tantos amigos que não conseguiam respirar. Mas Thiago tinha que se juntar a essa saudade, tinha que dizer adeus. Ele, amante das flores do campo, da floresta, da vida e da liberdade. Ele que acreditava em um mundo que agora se revela uma utopia: “o homem se sentará à mesa com seu olhar limpo, porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa”.
Thiago faz a grande viagem em um ano em que a verdade sucumbe diante da mentira, mas seu poema subsistirá às ruidosas transformações desses tempos de ódio e da desconstrução de valores que ele pregava incessantemente em suas poesias.
O lobo ainda devora o cordeiro e o dia em que pastarão juntos está distante e talvez dure mais “dez séculos” para que ambos compartilhem da mesma comida com gosto da aurora.
Porque os lobos atuam em bandos e eles se multiplicaram no Pais que você, Thiago, amava. Porque os cordeiros nem pastam mais, famintos, isolados em favelas, perdidos e sem esperança.
Ë verdade Thiagão, faz escuro e é preciso cantar para a esperança não morrer. Mas o sol se pôs Thiago. Dorme em paz. A cor do mundo não vai mudar…
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.