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Domingo de terror em Manaus. Estado capitulou frente a ação do crime organizado


Por Raimundo de Holanda

06/06/2021 19h09 — em
Bastidores da Política



O clima de terror que dominou Manaus neste domingo é consequência da mistura da má politica com milícias e o crime organizado. Na prática, o que se viu foi o Estado, enquanto poder, povo, território, governo e leis, portanto legalmente constituído, capitular diante de outro estado, paralelo, funcionando de forma colateral, com efeitos colaterais danosos para a cidade.

A audácia com que esse “exército”de soldados do tráfico circulou por Manaus, incendiando  carros, caixas eletrônicos e monumentos em praça pública pode até ser relativizada pelo governo do Amazonas, tomado de surpresa. Mas questiona-se a serventia de uma Secretaria de Inteligência, que custa caro ao contribuinte e é incapaz de prever ocorrências desse tipo;

Questiona-se a justificativa que os agentes do  caos deram para o terror que espalharam na cidade: a atuação do secretário de Segurança, Coronel Bonates. Como se Bonates lhes devesse algum favor, ou  tenha quebrado algum acordo.

Evidentemente que não se acredita nessa hipótese, mas a citação do nome do secretário, de forma insistente  pelos terroristas já indica a necessidade de uma investigação por parte do Ministério Público.

No final, talvez se confirme o que se acredita: que Bonates é eficiente e sua atuação incomoda esse estado paralelo. Mas se indicar outra coisa?

O caos pode continuar por vários dias - é o que prometem os terroristas do CV.

O Estado, enquanto poder constituído, com suas regras que balizam o comportamento da sociedade, deve se sobrepor ao estado paralelo, que demonstrou ser mais organizado, para desespero de cidadãos que em muitas ruas de Manaus tiveram o direito constitucional de ir e vir declarado inválido.

Não basta conter o avanço desse exército sobre a cidade, reduzir ou eliminar os incêndios a ônibus, a invasão de bancos e destruição de monumentos. Essa é uma guerra que o Estado legalmente constituído não pode  mais  acenar com tréguas. É uma guerra para ser vencida.

Uma guerra que precisa de um comandante habilitado para vencê-la. Ou teremos mais uma razão para nos confinar em casa.

Essa violência, que está aí todos os dias, mas só espanta quando o Estado é confrontado, faz tempo produz corpos mutilados, arregimenta jovens pobres na periferia e cobra um preço pela vida nos bairros.  Mas agora teve uma serventia:  muita gente “boa” saiu do conforto neste domingo e despertou para uma realidade cruel: a vida ficou mais frágil, nossos filhos mais expostos, nossas esperanças encolheram.

Hora de reagir, de exigir um governo eficiente, insuspeito, capaz de proteger cada  cidadão, rico ou pobre.

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.