Covid ajudou a esconder o lado cínico e debochado das pessoas
- Que importa se a pandemia avança - nenhum candidato à Prefeitura de Manaus falou em combater a Covid. Falaram em hospitais, mas não em vacinas. A doença também tem servido para as pessoas esconderem o seu lado cínico e debochado - a máscara invisível que já usavam agora criou forma bem natural: cobre todo o rosto...
Foram 244 mortes por Covid contabilizadas em novembro no Amazonas. Nada que faça soar o alarme em uma população descuidada, mal informada e anestesiada. Bolhas de um vírus que se adaptou ao clima tropical estouram dia após dia, enquanto os sinais amarelo e vermelho se alternam no mapa da pandemia.
Se os hospitais não superlotaram desta vez, o espaço para enterros diminuiu drasticamente nos cemitérios públicos.
A preocupação já não é com a doença - ninguém liga mesmo - mas como e onde enterrar os mortos. A possibilidade de construir um crematório não evoluiu, pelos custos que representa e pela resistência dos amazonenses que ainda acham que os mortos têm que voltar à Terra, o grande animal que se alimenta de corpos para multiplicar a variedade de vidas que gera.
Que importa se a pandemia avança - nenhum candidato à Prefeitura de Manaus falou em combater a Covid. Falaram em hospitais, mas não em vacinas.
A doença também tem servido para as pessoas esconderem o seu lado cínico e debochado - a máscara invisível que já usavam agora criou forma bem natural: cobre todo o rosto. Ninguém precisa fingir. Ninguém precisa mais abraçar quem não se gosta, nem apertar as mãos. Usa-se os punhos..
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.