Conceder título de cidadão do Amazonas a Bolsonaro é um deboche
- Um deboche com o Amazonas. O Estado não merece ser exposto dessa forma pelos deputados.
Os deputados aprovaram a concessão do título de Cidadão do Amazonas ao presidente Bolsonaro. Esqueceram as 13 mil mortes por Covid, o pouco caso que o presidente fez com a evolução da doença no Estado e que resultou em dezenas de óbitos por asfixia.
"E dai, não sou coveiro”, foi a resposta dada pelo homem que vai receber o título de Cidadão do Amazonas, quando lhe perguntaram como via o crescente número de óbitos em Manaus e nas demais capitais brasileiras. Mas o deputado Péricles Rodrigues do Nascimento, autor da proposta, passou uma borracha em tudo isso e, na prática, retirou das sepulturas as cruzes que marcam as feridas abertas no peito de cada família amazonense que perdeu um ente querido durante a pandemia.
O argumento para a concessão do titulo - mais de um milhão de vacinas enviadas ao Amazonas e logo aceita pelos colegas, revela, a um só tempo, que o deputado, além de subestimar, com sucesso, a 'inteligência' de seus pares, já que caíram na mais desastrada pegadinha do Parlamento este ano, não percebeu o desastre da proposta e a repercussão negativa entre seus eleitores.
Um deboche com o Amazonas. O Estado não merece ser exposto dessa forma pelos deputados.
Bolsonaro foi omisso, senão conivente com o desastre epidemiológico que se abateu sobre o Amazonas. Não reconhecer isso é fechar os olhos a uma realidade cruel, é tentar apagar a história, é subverter a verdade dos fatos, é esquecer o mal que Bolsonaro representa e representou para o Amazonas e o Brasil nessa pandemia.
A Casa que representa o povo do Amazonas não deveria deletar de seu histórico a omissão de Bolsonaro com a grave crise de saúde que o Estado mergulhou nos últimos meses.
Entre tantos atributos que faltou a Bolsonaro, um é o mais evidente e o mais importante: compaixão.
Argumentar que Bolsonaro liberou verbas destinadas à saúde para o Estado não justifica o projeto de concessão, muito menos a outorga do título. Ter cumprido um dever constitucional, não justifica transformar o presidente em conterrâneo, em compadre, em amigo de ocasião.
Já que os deputados, com exceção de Serafim Correa(PSB), que votou contra a concessão do título, não puderam, não foram altivos e abdicaram do papel de defensores das causas da população ou não tiveram a coragem de fazer um manifesto de protesto contra o presidente, e, ao contrário, o bajulam, então cabe aos eleitores deletar cada um que colocou seu voto favorável ao titulo.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.