Como a Covid 19 abalou Manaus e compromete o seu futuro
Manaus ficou 'famosa' com a Covid 19. E assim 'destronou' Wuhan, na China, onde o vírus apareceu pela primeira vez. Ninguém lembra de Wuhan, mas de Manaus, que produziu uma variante altamente letal do vírus. Demorou para a grande imprensa dizer que a cepa era brasileira. Antes, foi chamada de 'amazonense'.
Para piorar a má fama da cidade, o saturamento da rede hospitalar produziu caos e mortes, inclusive por asfixia. E casos de escassez de oxigênio explodiram, aparentemente sem nenhuma consequência para os governantes, apesar dos óbitos provocados.
Fora a compra superfaturada de respiradores, que nunca chegaram, mas serviram para engordar a conta de uma empresa que comercializa vinhos.
E quem pensava que a ação dos aloprados havia chegado a um fim, surgiu outro escândalo, que ganhou as manchetes dentro e fora do país: as primeiras doses de vacina, que se destinavam a um público seleto que atuava na linha de frente da saúde, foram entregues, em parte, a amigos do poder.
Os autores desses crimes estão aí, vendendo promessas, driblando a justiça, blindando os cargos que ocupam com troca de favores e projetos de reeleição. E se este cenário é ruim, as coisas só pioram.
As grandes indústrias instaladas em Manaus estão indo embora, afugentadas pela falta de perspectiva e pelo risco que representa investir em novas plantas produtivas. Mas o que as afogueia é a insegurança jurídica permanente. Sabem que os incentivos dos quais gozam hoje, por força de lei, poderão ser suprimidos amanhã.
Ou não foi combinada a ideia dada pelos caminhoneiros ao Governo Federal de retirar o IPI das empresas fabricantes de concentrados de refrigerantes na Zona Franca para subsidiar os aumentos dos combustíveis? Claro que foi. Embora não colocada em prática, é um sinal ruim…
O problema é o que vai restar dessa cidade daqui a um ou dois anos, quando a pandemia for apenas “uma gripezinha” e como tal tratada? Um grande vazio, sem indústrias, sem receita para tocar obras, sem dinheiro para pagar fornecedores e funcionários. Será, pelos rumos tomados até aqui, um grande deserto. O pior ainda está por vir…
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.